E se a sua história tivesse o potencial de se tornar um bestseller, mas nunca visse a luz do dia? Talvez tenha levantado a sobrancelha e desenhado um sorriso cético. Há alguns anos, José Rodrigues dos Santos ou J. K. Rowling teriam feito o mesmo.
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Doce procrastinação. Quem nunca adiou uma tarefa para se sentar no sofá a ver um filme, com uma manta no colo e um pacote de pipocas na mão? Não é estranho - nem incomum - que troquemos uma tarefa aborrecida por uma que nos dá prazer, mas parece improvável que um escritor apaixonado troque a escrita pela limpeza da banheira. Na realidade, criar um blogue ou escrever um livro são tarefas frequentemente adiadas por escritores com aptidão e vontade. Porque é que acontece? Estas são as seis razões mais comuns.
1 - Falta de tempo Será mesmo falta de tempo? Para quem adora escrever quaisquer cinco minutos deviam ser bons para rabiscar um texto, no entanto a maioria dos escritores trata a procrastinação por tu: é preciso ir ao supermercado, dobrar a roupa, ou mesmo dormir uma sesta. Para se ser escritor não basta ter vontade, é preciso definir e cumprir uma rotina de escrita. Desvendamos, nos pontos seguintes, porque nunca encontra tempo para escrever. 2 - Insegurança A urgência repentina que sentiu de comprar um pacote de leite não passa de autossabotagem. Talvez nem se importe de beber um copo de sumo natural ao pequeno-almoço, mas no momento em que pensou em sentar-se para escrever, o pacote de leite pareceu-lhe mais valioso que a própria vida. Se procurar no fundo das prateleiras da sua mente não vai encontrar leite, mas encontrará o medo da página em branco, o medo de não ter a técnica necessária para estruturar a história, o medo de sofrer um bloqueio criativo. Temos algo para lhe dizer: até os escritores mais experientes passam horas a olhar para uma folha branca; a técnica estuda-se; os bloqueios enfrentam-se. O seu livro não se vai escrever sozinho. “Os dias começaram a arrastar-se como lesmas, passava-os sentado à mesa, de caneta na mão, a olhar o papel vazio numa paciência imóvel que me doía (…)” António Lobo Antunes, in Visão 3 - Medo do julgamento Acreditar que os outros vão detestar a sua escrita pode ser aterrador, mas não passa de uma crença limitadora. Claro que existirá sempre quem goste e quem não goste do que escreve, assim como existe quem, inacreditavelmente, não goste de chocolate. Querer agradar a todos é utópico. Concentre-se em conquistar alguns leitores fiéis, não em brilhar no firmamento mundial ou em arrebanhar o Nobel da Literatura. Lembre-se do Nobel José Saramago: uns gostam, outros detestam. 4 - Medo da concorrência Não tema os outros escritores, existem leitores para todos. Tema os meios audiovisuais, pois esses são a verdadeira concorrência do livro. Vivemos a era do vício nos estímulos sensoriais, no imediato, nas mensagens mastigadas e prontas a engolir. Se lhe parece impossível que a literatura possa competir com as séries televisivas, as redes sociais e os videojogos, saiba que não é bem assim. Já ouviu falar em Storytelling? A formação sobre a arte de contar histórias é obrigatória para todos os que procuram captar e manter a atenção do leitor. 5 – Não encontrou a sua história Procure-a. Doeu? Olhe à sua volta neste momento: chegue-se à janela, veja a pessoa que está ao seu lado, leia as notícias na internet, entre dentro de si e dos outros. Melhor ainda, não olhe, observe. Questione o mundo, aponte histórias extraordinárias. Existem quatro coisas essenciais para um escritor: ler, escrever, observar e tirar algum tempo para deixar o pensamento divagar. Se decidir procrastinar, deite-se numa cama de rede e deixe que a preguiça jogue a seu favor. 6 - Stress Este é o único motivo que nos obriga a dar o braço a torcer. Se está a passar por uma fase de problemas pessoais graves, de muita pressão ou cansaço, priorize a saúde emocional. Use a escrita como ferramenta terapêutica, se assim o entender, mas não se imponha uma rotina rígida. Escreva poesia, desabafos, um diário. Há momentos em que bastam as imposições da vida e é mesmo preciso parar. Adiar projetos não é desistir deles. Ainda aí está? Feche esta página e comece a escrever. Escritor que se preze vive em busca de ideias para boas histórias. A verdade é que estamos rodeados delas, mas não treinámos a nossa mente para captar os segundos de encantamento que impulsionarão um enredo vencedor: a notícia que acabámos de ler sobre o aquecimento global, o diálogo que ouvimos entre duas senhoras cultas, ou o cão perneta da vizinha do 6º A. Da observação mais simples nascem as melhores histórias, quer apostar? E se o aquecimento global fosse uma forma de repor a ordem natural das coisas? E se uma das senhoras cultas tivesse acabado de matar o marido? E se o cão perneta da sua vizinha fosse a reencarnação do Saci? Talvez estas premissas não sejam para levar a sério, mas um brainstorming absurdo consigo mesmo pode resultar em grandes epifanias. Como em qualquer outro ofício, o segredo reside no treino. Predispor o cérebro para encontrar ideias é um trabalho diário e, arriscamos, divertido. Se depois de ler estes parágrafos teve o seu momento eureka, recomendamos que continue a leitura. Dizemos-lhe quais são os cinco estágios de verificação da história, aqueles que vão validar a qualidade da sua ideia. 1. A sua história deve ser concreta Todas as histórias devem resultar em prazer físico ou mental (não, não é nada disso que está a pensar). Como se sente quando assiste a um espetáculo de fogo-de-artifício? Pisca os olhos de emoção? Assim devem ser as histórias. 2. A sua história deve ser palpável Para além da sensação de tocar no livro ou no leitor de e-books, ofereça ao leitor a impressão clara de que ele poderia vivenciar ou experimentar a sua história. 3. A sua história deve ser mensurável Tudo o que é palpável pode ser medido, ou seja, a sua história deve ter um final e esse final deve ser satisfatório, caso contrário o enredo perderá o interesse. Lembre-se de que final satisfatório não significa final feliz, e de que todas as histórias têm princípio, meio e fim. 4. A sua história deve ser memorável Se teve uma ideia para escrever uma história brilhante, certifique-se de que ela terá hipótese de se perpetuar na memória dos leitores. Há livros que nunca esquecerá, e é isso que quer que o seu livro seja: inesquecível. 5. A sua história deve ser transformadora Para si a para o leitor. Produzir uma história que causa empatia favorece a libertação de endorfinas. Endorfinas fazem as pessoas felizes. Se o leitor se sentir amado - por mais estranho que isso pareça - escreveu uma boa história. O seu enredo não passa nestes cinco requisitos? Melhore-o ou descarte-o. E não se esqueça de que todas as histórias devem ter um propósito, no entanto o nosso conselho é que não se apoie nesta afirmação para veicular lições de moral. O seu leitor não vai gostar disso. Se este artigo lhe foi útil, partilhe-o nas redes sociais. Outros escritores vão agradecer. |
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Outubro 2020
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