A partir desta semana, passaremos a publicar textos dos participantes nos nossos workshops de escrita criativa, bem como os resultantes dos desafios publicados na nossa página de Facebook.
A estreia cabe à Andreia Atalho, em resposta ao exercício proposto no workshop de 9 de Novembro, no Ler Por Aí.
E se um amolador e um assassino se encontrassem? Foi assim que a Andreia respondeu...
E se um amolador e um assassino se encontrassem? Foi assim que a Andreia respondeu...
"Descia em passo apressado pela Rua Garret um homem de 35 anos, alto e bastante magro.
Abandonou as suas raízes na juventude e a sua vida ficou marcada pela solidão. Nascido em Estorãos, uma aldeia minhota situada a 6 quilómetros de distância de Ponte de Lima, Manuel sempre se sentiu diferente dos outros meninos da sua idade. Gozavam com ele pela forma como falava como se sentava e detestava brincar com carros ou jogar à bola.
Muitas vezes sentia-se discriminado por ser como é mas que ele próprio não compreendia ou seria capaz de aceitar.
No outro lado dessa mesma rua, subia o João com cerca de 58 anos de idade, cabelo grisalho e de estatura baixa.
Com uma bicicleta pela mão e uma gaita de beiços, anunciava a chegada da chuva.
Tinha perdido o filho em tenra idade num acidente de carro, acidente esse que ele próprio tinha sido culpado. Tinha feito uma ultrapassagem numa curva de pouca visibilidade e ao desviar-se do carro que vinha em frente, bateu com o carro de lado numa árvore.
João de seu nome, trazia na face essa dor e esse pesar.
Que aspecto tem um homem que carrega em si a dor de matar o seu único filho?
Sabia que ter sobrevivido a este acidente só poderia ser castigo, castigo de não ter querido ter um filho e agora iria carregar essa dor até morrer.
A sua mulher nunca foi capaz de lhe dizer o quanto o culpava pela dor que trazia no coração, mas a forma como o olhava….
João sentiu na altura que não conseguiria viver com estas duas dores, a da sua mulher e a dele.
Num dia bem cedo saiu de casa.
Ana a sua mulher ouviu e sentiu o que estava prestes a acontecer, mas nada fez para o impedir.
Finalmente aconteceu o que ela tanto desejara.
João colocou a sua chave em cima da mesa da cozinha, sabia que Ana iria entender a mensagem – “Não pretendo voltar, não irei voltar”.
Nesse mesmo dia Ana chorou de alívio.
Em lados opostos da Rua Garret, os olhares destes dois homens cruzaram-se e parecia que gritavam por ajuda.
Manuel ardia de raiva por dentro, sentia que iria cometer um erro enorme da sua vida, queria descarregar a sua raiva, acumulada de anos, em alguém
Ao reparar em João, Manuel abrandou o passo
João ao reparar em Manuel continuou a tocar a sua gaita-de-beiços mas mais devagar.
Seriam capazes duas almas de se cruzarem numa rua, aliviarem uma dor e evitarem um enorme erro?"
Abandonou as suas raízes na juventude e a sua vida ficou marcada pela solidão. Nascido em Estorãos, uma aldeia minhota situada a 6 quilómetros de distância de Ponte de Lima, Manuel sempre se sentiu diferente dos outros meninos da sua idade. Gozavam com ele pela forma como falava como se sentava e detestava brincar com carros ou jogar à bola.
Muitas vezes sentia-se discriminado por ser como é mas que ele próprio não compreendia ou seria capaz de aceitar.
No outro lado dessa mesma rua, subia o João com cerca de 58 anos de idade, cabelo grisalho e de estatura baixa.
Com uma bicicleta pela mão e uma gaita de beiços, anunciava a chegada da chuva.
Tinha perdido o filho em tenra idade num acidente de carro, acidente esse que ele próprio tinha sido culpado. Tinha feito uma ultrapassagem numa curva de pouca visibilidade e ao desviar-se do carro que vinha em frente, bateu com o carro de lado numa árvore.
João de seu nome, trazia na face essa dor e esse pesar.
Que aspecto tem um homem que carrega em si a dor de matar o seu único filho?
Sabia que ter sobrevivido a este acidente só poderia ser castigo, castigo de não ter querido ter um filho e agora iria carregar essa dor até morrer.
A sua mulher nunca foi capaz de lhe dizer o quanto o culpava pela dor que trazia no coração, mas a forma como o olhava….
João sentiu na altura que não conseguiria viver com estas duas dores, a da sua mulher e a dele.
Num dia bem cedo saiu de casa.
Ana a sua mulher ouviu e sentiu o que estava prestes a acontecer, mas nada fez para o impedir.
Finalmente aconteceu o que ela tanto desejara.
João colocou a sua chave em cima da mesa da cozinha, sabia que Ana iria entender a mensagem – “Não pretendo voltar, não irei voltar”.
Nesse mesmo dia Ana chorou de alívio.
Em lados opostos da Rua Garret, os olhares destes dois homens cruzaram-se e parecia que gritavam por ajuda.
Manuel ardia de raiva por dentro, sentia que iria cometer um erro enorme da sua vida, queria descarregar a sua raiva, acumulada de anos, em alguém
Ao reparar em João, Manuel abrandou o passo
João ao reparar em Manuel continuou a tocar a sua gaita-de-beiços mas mais devagar.
Seriam capazes duas almas de se cruzarem numa rua, aliviarem uma dor e evitarem um enorme erro?"
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