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11/17/2022

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Para sempre. Aqui estou.

 
por Estefânia Barroso
Fotografia
“Para sempre. Aqui estou”. Estas tinham sido as palavras da sua mãe naquele dia fatídico. Aquele dia que ficou gravado na sua memória ainda de menino. Como o poderia esquecer? Tanto tinha sido vivenciado naquele dia! A expetativa da viagem, de visitar uma cidade grande, de visitar o Museu da Marioneta. Perspetivava-se uma grande aventura! E o dia tinha sido mesmo como ele esperava: a viagem de comboio tinha sido mágica, tinham almoçado num jardim, partilhando o farnel que tinham trazido com eles, e o Museu era, simplesmente, maravilhoso! Carlos e a mãe voltavam para a estação de comboio, a fim de regressarem a casa, de coração cheio por este dia tão diferente, tão preenchido e pela intensidade destes momentos vividos a dois.
Contudo, de um momento para o outro, todo aquele cenário se alterou. Pelas ruas que calcorreavam em direção à estação, uma simples manifestação e um mar de gente tinham gerado o caos à volta deles, as mãos dadas tinham-se separado e Carlos encontrara-se sozinho, perdido no meio da multidão. Que medo sentiu naquele momento. Olhou para a esquerda, para a direita, para todos os lados e apenas via caras estranhas, caras que não reconhecia e que, por isso, o assustavam. A cidade é tão grande – pensava ele. Estou perdido. Nunca mais vou regressar a casa, nunca mais vou ver a minha mãe! Mas, depois de um tempo que pareceu uma eternidade, que tanto poderia ter sido cinco minutos como uma hora, no meio daqueles estranhos todos, a mãe, aquela mulher linda e meiga, materializara-se à sua frente e, abraçando-o, disse-lhe: “Não chores, meu amor! Aqui estou! Estou agora e para sempre! Aqui estou!”. Carlos sentira que o Sol voltava a brilhar, que o mundo tinha voltado a entrar nos eixos. Nos braços da mãe não havia perigos que o pudessem atingir!
Carlos relembrava este dia, enquanto olhava para a sua mãe, naquela cama. Pela primeira vez na sua vida, tinha dificuldade em olhar para ela e reconhecer a bela mulher que fora. Os olhos encovados, a extrema magreza, o cabelo, outrora forte e loiro, hoje mais não era do que alguns fios brancos e ralos espalhados pela cabeça. A respiração era esforçada e muito fraca... Pareceu a Carlos que a mãe tinha adormecido e tentou libertar-se da sua mão, dos seus dedos entrelaçados, para a deixar descansar. Porém, a mãe abriu os olhos, segurou a mão do filho com maior firmeza do que seria de esperar naquele corpo tão fraco. Não me deixes, Carlos, agora não. Tenho medo de ficar sozinha!
Carlos sentiu os olhos humedecerem-se e tentou controlar as lágrimas que queriam saltar-lhe dos olhos. Apertou a mão da mãe com um pouco mais de força e disse-lhe numa voz trémula, de quem sabia que o tempo começava a escassear para ela, mas que pretendia apaziguadora: Não mãe, não deixo. Estou aqui. Para sempre. Aqui estou!
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11/14/2022

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Mariazinha

 
Por Rafaela Lacerda
Fotografia
aPara sempre, aqui estou. Rodeada de nada. Encarcerada na liberdade fajuta que me impõem. Limpa há três meses. «Três meses, que orgulho», dizem os demais. Orgulho de quê? Deixam a comida, medem a tensão, dão-me os comprimidos. Drogas para substituir drogas. Estas, legais. Aprovadas. Bem vistas aos olhos das mentes mirradas de preconceito. Horas de ir passear. Lá vamos nós, todos os cordeirinhos em fila organizada. Lindo jardim com vista para o mar lá ao fundo. Lindo jardim bem murado. As heras disfarçam a prisão. Refeições certas, a horas certas, com as regras certas. Para quem as faz? Para quem as cumpre? «O internamento é voluntário, a reabilitação é voluntária.» «Que bom teres escolhido este caminho». Aceno e sorrio, como dizem no estrangeiro. Seja feita a sua vontade. «Tens muita sorte em estares aqui. Estas reabilitações são tão caras.» Continuo a acenar e a sorrir. Que mais há a fazer? Esperar. Um mês, um ano? «Não sabemos, depende da resposta do organismo.» Pergunto-lho todos os dias, não responde, o organismo. Não sei se timidez ou má educação. Dependerá do ponto de vista, decerto. Horas de ir fazer a sesta. «Não tenho sono.» «Nós damos uma ajuda.» «Posso ficar aqui?» «No jardim?» «Sim.» «Sozinha? Não me parece prudente.» «Aqui não há drogas, não é? Acho que a relva e os plátanos são inofensivos, não são, doutor?» Tento o gracejo, o semblante não se altera. «Não prefere ir para a sala de pintura? Ou para a sala de música?» «Não gosto de pintar. Não sei tocar nenhum instrumento. Gostava mesmo era de ficar aqui. Não há perigo. Não vou fugir, não é? Temos um muro de três metros que dá para uma falésia. Lá em baixo só mar e rochas.» Hesita. «Sim, acho que não há problema. Vou pedir à enfermeira para vir tomar conta de si.» «Já sou crescidinha. Só quero ficar a ver o mar. Acalma-me.» «Está nervosa? Vamos medir a tensão.» Tem de se escolher tão bem as palavras... «Não, não é isso. Se calhar não me expressei bem. Gosto de ver o mar. Dá-me ainda mais serenidade. Sinto-me... feliz.» Eles gostam sempre de ouvir a palavra feliz. Incha-os de orgulho em como estão a fazer o trabalho como deve ser. «Muito bem. Então vai ficar aqui a passear. Sente-se, olhe para o mar, descanse. Se quiser dormir, chame, vá ter connosco. Esteja à vontade. Isto é tudo para seu bem.» «Sim, sim. Sei disso, claro. Obrigada.» «Ora essa. O bem-estar dos nossos pacientes é a prioridade desta clínica e de todos nós que aqui trabalhamos. Bom descanso.» «Obrigada.» Enfim, a conversa de merda acaba. Deambulo pelo jardim. Já o conheço de cor. Quase um ano a andarilhar pelos mesmos recantos. «Faltam dois meses. E depois volta à sua vida normal, à sua...» À minha quê? O que é a minha vida normal? Farejar as ruas, ávida por um grama de pó? E como é que se paga? «Não tenho mais nada.» O carro do pai, o anel da mãe, o colar da avó. Despediram a empregada. Nunca lhe pedi desculpa. «Não tenho mais nada, mas eu pago, eu...» «Pagas com o corpinho, giraça.» E pagava. O que quisessem. Até se lambuzarem. Tudo por um grama de pó, tudo para ter tudo e deixar de sentir o nada. Apanho uma flor. Amarela, como o sol que se impõe e esconde todas as estrelas que tentem brilhar. Como o pó. Acerco-me do muro. As florezinhas tímidas da trepadeira acenam-me com braços ondeantes. Ouve-se o mar a chapar na rocha. Ouvem-se os respingos a trepar o muro do lado de fora. Afago uma flor roxa, escancarada de beleza, num «olhem para mim» insinuante. Mexo-lhe e vejo o mar. Como? Afasto-a. O buraco maior. Um tijolo caiu. Mexo mais. Outro tijolo. E, quanto mais mexo, mais os tijolos se soltam. Já consigo pôr a cabeça. O mar, lá ao fundo, chama o meu nome. Mais um tijolo, e outro, os ombros já passam. Estou debruçada, pernas suspensas, os respingos na cara. Pareço livre. Os chinelos caem. «Anda», seduz-me a onda. Empurro o muro, do lado de fora. As duas mãos ao mesmo tempo. A anca passa. Voo. «Espera por mim», peço à onda fujona. Ela espera. Vou ao seu encontro. Cumprimenta-me com um beijo salgado. Aconchego-me no embalo. Fico quietinha ao seu colo. Adormeço. A onda deita-me numa caminha de algas. Tão confortável. Aqui fico. Aqui estou. Para sempre.
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11/9/2022

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Para sempre. Aqui estou.

 
por Rita Amaral
Para sempre
Para sempre. Aqui estou.
Ninguém me disse que era assim. E também não me disseram o contrário. Provavelmente porque ninguém sabia.
É que, bem vistas as coisas, é no “para sempre” que a história acaba. O depois não importa. Ou não deve importar, porque casaram e foram felizes ou foram amaldiçoados ou aprenderam uma lição qualquer e pronto, fim.
Talvez por isso tenha crescido com a noção de que o “para sempre”, mesmo que conotado positivamente, só chega no fim. De outra forma, não é realmente “para sempre”. E que triste ideia a de que a eternidade, afinal, põe fim às coisas em vez de perpetuá-las.
Não é nada assim.
O “para sempre” vive-se antes do fim. Ontem, hoje e amanhã. Um dia a seguir ao outro. E na maioria das vezes, nem sequer são dias especiais. Mas passamos e passaremos por eles até que se acabem. E foram os “para sempre” quebrados que mo ensinaram. As amizades desfeitas, as perdas, as desilusões que ditam o fim de muitos gostos. Achei que seriam eternos e depois achei que me enganara. Só mais tarde percebi que, no fim de contas, o “para sempre” é que não é sempre do mesmo tamanho.
Pode durar a vida toda, mas também escassos dez minutos. E está tudo certo.
É por isso que aqui estou. Hoje, vivo o “para sempre” de todos os amores que tenho e de todos os que me têm. Não sei se longos se curtos, mas sei que enquanto durarem, são para sempre.
E no dia em que a minha história chegar realmente ao fim, espero que se interrompam muitos “para sempre” porque, de repente, não me ocorre final mais feliz.
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