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por Sílvia Vidal - Aquela ali sou eu! - Filipa apontou para a sua figura de cabelos louros encaracolados curtos. Ainda não se tinha habituado a essa mesma figura, agora sem contornos, vagando no éter. Ainda se estava a habituar a ver-se assim e ficava abismada com a rapidez com que tudo acontecera: num minuto estava ali naquele palco, segura, resolvida, a dar palestras de amor e a falar sobre o seu livro, no outro…
Olhava-se com a distância que agora se permitia e via que se tinha encontrado. A materialização de tudo fora ascensional e o percurso ao princípio lento, começara lá atrás quando o seu pai resolvera desistir de si mesmo e da vida. Essa desistência precipitara-a para o vazio, para a dor e para a raiva. Girava apenas e só em círculos como um rato preso na gaiola, num círculo infernal de começos e recomeços sempre iguais que não a deixavam sair daquele labirinto onde se encontrava. Tentava mitigar o vazio e o caos em que se tornara, mas apenas vislumbrava um começo de coisa nenhuma e um fim de tão pouco. Sentia-se uma falhada e culpava o seu pai pelo seu falhanço enquanto pessoa! Naquela noite de insónia, começou a escrever e gostou da sensação que isso lhe imprimia. No outro dia, escreveu mais um pouco e lentamente, juntou mais dias ao primeiro. O seu coração deixou de gritar de dor e a sua alma rejubilava. Sentia-se bem! Demorara a chegar lá, mas conseguira! Escreveu em cadernos as suas agonias e procurou nas palavras o remédio que lhe curasse essa dor latente e pungente. Deu consigo a escrever toda uma vida… uma vida que a trouxera até ali. Depois procurou editores que lhe dessem a cura, mas as portas foram-se fechando uma atrás da outra. Até que houve um editor que a leu e à sua “Remissões “trazendo-lhe finalmente a restauração da sua vida, em si mesma e em todas as suas capacidades. No entanto, no mesmo dia que se sentiu plena, restabelecida, restaurada e feliz, a mesma vida matou-a. Aquele camião sem freio, tirara-lhe o freio à sua vida e tudo se acabara rápido demais -Sabes filha, tenho muito orgulho em ti! Por tudo o que fizeste por ti e contigo! Alguma vez me vais perdoar pelo que te fiz? - Pai, eu perdoei-te no dia em que a escrever me curei. Cresci e curei-me através da dor, órfã do amor que te negaste e que me negaste, mas em vez de morrer em vida renasci. Essa foi a maior lição que me deste! Deram as mãos e no éter rumaram juntos para a Luz do Infinito. Your comment will be posted after it is approved.
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Desafios de escrita criativa
Este é o espaço onde publicamos os textos dos membros do Clube de Escritores. Histórico
Novembro 2022
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12/23/2021
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