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5/3/2022

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A Persistência da Memória

 
por Rita Leite
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O tempo estava a passar e eu estava parada. Os relógios pararam comigo. Naquele verão, na costa vicentina, só existíamos eu e o tempo. Mais nada. A natureza estava morta, mas eu existia. Eu e o tempo. Naquele lugar, junto ao mar e às arribas, era-me permitido tudo. Um todo sem fim. Infinito.
Mortos que estávamos, eu e o tempo, permitimos que o ar, a água e a terra se juntassem a nós. Naquele verão, em que o tempo tinha parado e não existia mais nada, permiti-me ser. Estar. É preciso voltar à terra para passar a ser ar. Para criar, rejuvenescer. A presença da água e do céu permitiram-me voltar a casa. Mesmo longe de casa. Voltar a ser eu.
Enquanto o mundo dormia, eu tirei tempo para existir. Não para viver, mas para existir. Precisava de estar morta naquele momento, precisei de aguentar os pulmões sem ar, tal como fazia todas as manhãs em casa, por segundos, nas minhas meditações matinais, procurando um equilíbrio que todos achamos possível achar no meio da cidade.
Mas não achamos.
Naquele verão, no meio de ninguém, num retiro que fora só meu, encontrei o que a mim pertencia. A existência da longuidão de ser. Encontrei a liberdade que existe dentro da prisão. Daquela prisão que somos nós no meio de gente que não conhecemos em cidades que não nos cabem. Encontrei o direito à permanência. O direito de me conservar exangue de vida até o sangue voltar a circular. Até o ar puro voltar a entrar nos pulmões e o espírito rejuvenescer.
No meio das urbes do século XXI, é difícil preservar o ar nos bofes, a água no corpo, o fogo na alma e os pés na terra. Mas ali não. Ali, foi fácil. Depois da adaptação inicial, consegui passar a ser um canguru bebé. Ou uma lontra bebé. Que precisam de sair da bolsa ou do colo da mãe para conseguirem ver o Universo com curiosidade e entusiasmo. Para conseguirem encontrar a vontade de explorar aquilo que ainda não conhecem num cosmos que está ao seu dispor com informações que não são precisas.
Ali, na costa vicentina, no verão de 2019, encontrei a vontade de permanecer com vida, de sobreviver às ameaças do mundo que não conheço. Ou não ouso conhecer. Mas viver é fazer frente aos relógios parados e usá-los a nosso favor. Viver é unir a força das arribas, do mar e dos ventos à essência daquilo que somos e daí retirar energia para continuar. Para sair da bolsa da mãe canguru. Ou do colo da mãe lontra.
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