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12/29/2021

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Bom dia, vida boa!

 
por Estefânia Barroso
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O telemóvel tocou cedo, praticamente de madrugada! Raios, logo hoje que tinha tirado a manhã para dormir e descansar – Foram esses os primeiros pensamentos a passar-me pela mente. Ainda com os olhos meios fechados, tateei com a mão pela mesinha de cabeceira à procura da máquina infernal que continuava a vibrar de um modo cíclico e irritante. Encontrei-a, por fim, abri ligeiramente os olhos para ver quem tinha tanta urgência em falar comigo, logo ao raiar do dia. A minha intenção era abrir um olho, verificar quem queria falar comigo e, rapidamente, desligar o telemóvel e voltar a fechar o olho que mal tinha chegado a abrir, voltando para o meu país dos sonhos. O melhor que poderia fazer era desligar o telemóvel sem sequer ver quem ligava, mas sabia-me demasiado curiosa para conseguir dormir sem conferir quem seria a pessoa que tinha tanta urgência para falar comigo logo pela manhã.
Contudo, quando, com o meu olho meio aberto, vi o nome que se perfilava no meu ecrã, não só ambos os olhos se escancararam como me sentei na cama num repente. Raios, o meu editor, a ligar-me logo de manhã?! Só pode ser algo de muito bom ou de muito mau!
Comecei a sentir as mãos a tremer, o corpo a encher-se de suores. O que teria ele para me dizer? Uma de duas coisas, isso era certo. Ou o livro tinha sido aceite para publicação ou, pelo contrário, tinha sido considerado um perfeito falhanço, um miserável sucessor do meu primeiro livro publicado e que tinha sido um enorme sucesso de vendas. Dei por mim a estudar o ecrã do telemóvel como se ele próprio me pudesse dar logo a resposta que procurava e, simultaneamente, temia ouvir.
A verdade é que sentia muitíssimo o peso da responsabilidade. Publicar o meu primeiro livro tinha sido fácil. Como poderia não ser? A história era fabulosa e já existia. Bastava-me ter reunido e conferenciado com o meu pai algumas vezes, a fim de esclarecer pontos da sua história que não estavam tão claros para mim e pôr os dedos a voar no teclado do computador. A história tinha-se contado por si e em muito pouco tempo tinha passado “para o papel” a história de vida que queria contar. Daí à publicação, estranhamente, tudo tinha sido muito rápido. O concurso, o primeiro prémio, o direito a publicar. E a verdade é que a história do meu pai, emigrante em França nos anos 60, tinha captado a atenção do público e tinha sido um pequeno sucesso de vendas.
Talvez por isso sentisse a fasquia tão alta com este meu segundo livro. Será que eu tinha sido uma escritora de um sucesso só? Será que não conseguiria voltar a escrever nada com tanto reconhecimento como a história do meu pai? O processo de escrita deste segundo livro tinha sido bem mais difícil que o primeiro, muito duro e penoso. Quantas e quantas noites passara a escrever para apagar tudo na manhã seguinte? E agora tinha o telefone a tocar e o “meu” editor teria em suas mãos, com toda a certeza, o veredicto.
Respirei fundo e atendi finalmente. Do outro lado da linha ouvi um “Bom dia, Esperança. Estava a ver que não atendias!” Procurei no tom de voz dele algo que indiciasse o que tinha para me dizer, alguma inflexão na voz que me preparasse para o veredicto que esperava. Mas não consegui descortinar nada!
Ouvi, então, as suas palavras, em silêncio. Suspirei de alívio. Era um “sim”. Iniciava hoje a minha segunda viagem como escritora publicada! Perdera o sono! Levantei-me, abri as janelas, dei um grito de vitória e disse de mim para mim: Bom dia, vida boa!
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12/23/2021

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A Cura

 
por Sílvia Vidal
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- Aquela ali sou eu! - Filipa apontou para a sua figura de cabelos louros encaracolados curtos. Ainda não se tinha habituado a essa mesma figura, agora sem contornos, vagando no éter. Ainda se estava a habituar a ver-se assim e ficava abismada com a rapidez com que tudo acontecera: num minuto estava ali naquele palco, segura, resolvida, a dar palestras de amor e a falar sobre o seu livro, no outro…
Olhava-se com a distância que agora se permitia e via que se tinha encontrado. A materialização de tudo fora ascensional e o percurso ao princípio lento, começara lá atrás quando o seu pai resolvera desistir de si mesmo e da vida. Essa desistência precipitara-a para o vazio, para a dor e para a raiva. Girava apenas e só em círculos como um rato preso na gaiola, num círculo infernal de começos e recomeços sempre iguais que não a deixavam sair daquele labirinto onde se encontrava. Tentava mitigar o vazio e o caos em que se tornara, mas apenas vislumbrava um começo de coisa nenhuma e um fim de tão pouco.
Sentia-se uma falhada e culpava o seu pai pelo seu falhanço enquanto pessoa!
Naquela noite de insónia, começou a escrever e gostou da sensação que isso lhe imprimia. No outro dia, escreveu mais um pouco e lentamente, juntou mais dias ao primeiro. O seu coração deixou de gritar de dor e a sua alma rejubilava. Sentia-se bem!
Demorara a chegar lá, mas conseguira!
Escreveu em cadernos as suas agonias e procurou nas palavras o remédio que lhe curasse essa dor latente e pungente. Deu consigo a escrever toda uma vida… uma vida que a trouxera até ali. Depois procurou editores que lhe dessem a cura, mas as portas foram-se fechando uma atrás da outra. Até que houve um editor que a leu e à sua “Remissões “trazendo-lhe finalmente a restauração da sua vida, em si mesma e em todas as suas capacidades.
No entanto, no mesmo dia que se sentiu plena, restabelecida, restaurada e feliz, a mesma vida matou-a. Aquele camião sem freio, tirara-lhe o freio à sua vida e tudo se acabara rápido demais
-Sabes filha, tenho muito orgulho em ti! Por tudo o que fizeste por ti e contigo! Alguma vez me vais perdoar pelo que te fiz?
- Pai, eu perdoei-te no dia em que a escrever me curei. Cresci e curei-me através da dor, órfã do amor que te negaste e que me negaste, mas em vez de morrer em vida renasci. Essa foi a maior lição que me deste!
Deram as mãos e no éter rumaram juntos para a Luz do Infinito.
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12/22/2021

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Texto de Fernando Morgado

 
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“É pr’acabari! É pr’acabari! Tud’a um êro! Ó dona, é de primeira, tudo roubado, tudo roubado! Venham à Luana que não vos engana!” – a ladainha da Luana ouve-se longe, todas as semanas na feira dos Carvalhos, faça dor ou faça amor, ela lá está na sua banca de sobrevivência a vender o que comprou e a enganar dizendo que tudo foi roubado - ou não seja esse um dos estigmas do povo cigano!
Trusses e cuecas, meias, peúgas e ceroulas, lá pelo meio algumas leggings “pata de camelo”, slips com abertura a meio, fio dental para quem tem dentes, “é o que eu uso” diz ela, e alguns conjuntos “balconette” de fazer corar qualquer gigolô de imitação.
“Ó menina, se quer despir-se melhori, compre à Luana do amori!” Luana, a cigana, despida de pudores e vestida de pecado! Olhos que mordem, mãos que chamam, lábios que latejam nos olhos de quem a vê!
Até o “sinhor guarda” se espanta com a montra da cigana. Qual factura, qual quê, do IVA nem é bom falar, o que toda a gente quer é que a Luana não falte, na feira dos Carvalhos.
Mesmo a Sãozinha “catequista”, a sonsa que vende panos de cozinha como se fossem tremoços, sim, a coitada, também se paspalha em esconjuras beatas a amaldiçoar a rapariga, como se se amaldiçoasse a ela própria por não ter um corpinho igual ao da cigana. O seu homem só usa cuecas de carcela e a “santinha” sempre usou cuecas de gola alta. Que Deus a ajude! Um falhanço, digo eu!
“Ai sinhor guarda c’até me dá os caloris quando o vejo a mirar-me. O seu cassetete é tão grannndi! Ai…leve’mas cuecas todas se quiseri!” – o agente fala com os olhos e os poros, mais aflitos que a língua, mais mordentes que a boca - a camisas toda suada e a testa em camarinhas! Olha em volta à procura de “machezas” escondidas, um qualquer Benício Quaresma que a proteja, um romani jovem que a resgate e a desinquiete, um desmandado arguto que lhe queira “fazer a folha” desde a última vez que lhe deu voz de prisão. Os olhos como faróis, a mão pousada no coldre – a sorte não rima com morte!
“É pr’acabari! É pr’acabari! Tud’a um êro! Um êro – um êro – um êro! É tudo roubado, tudo roubado! O sinhor guarda que o diga, até ele me rôba o coração!”
Não sei quem foi o editor, se o pai ou qualquer outro escultor, Luana é uma deusa. Eu vou sempre à Feira dos Carvalhos! Eu sou um homem de fé!
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