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por Estefânia Barroso O telemóvel tocou cedo, praticamente de madrugada! Raios, logo hoje que tinha tirado a manhã para dormir e descansar – Foram esses os primeiros pensamentos a passar-me pela mente. Ainda com os olhos meios fechados, tateei com a mão pela mesinha de cabeceira à procura da máquina infernal que continuava a vibrar de um modo cíclico e irritante. Encontrei-a, por fim, abri ligeiramente os olhos para ver quem tinha tanta urgência em falar comigo, logo ao raiar do dia. A minha intenção era abrir um olho, verificar quem queria falar comigo e, rapidamente, desligar o telemóvel e voltar a fechar o olho que mal tinha chegado a abrir, voltando para o meu país dos sonhos. O melhor que poderia fazer era desligar o telemóvel sem sequer ver quem ligava, mas sabia-me demasiado curiosa para conseguir dormir sem conferir quem seria a pessoa que tinha tanta urgência para falar comigo logo pela manhã.
Contudo, quando, com o meu olho meio aberto, vi o nome que se perfilava no meu ecrã, não só ambos os olhos se escancararam como me sentei na cama num repente. Raios, o meu editor, a ligar-me logo de manhã?! Só pode ser algo de muito bom ou de muito mau! Comecei a sentir as mãos a tremer, o corpo a encher-se de suores. O que teria ele para me dizer? Uma de duas coisas, isso era certo. Ou o livro tinha sido aceite para publicação ou, pelo contrário, tinha sido considerado um perfeito falhanço, um miserável sucessor do meu primeiro livro publicado e que tinha sido um enorme sucesso de vendas. Dei por mim a estudar o ecrã do telemóvel como se ele próprio me pudesse dar logo a resposta que procurava e, simultaneamente, temia ouvir. A verdade é que sentia muitíssimo o peso da responsabilidade. Publicar o meu primeiro livro tinha sido fácil. Como poderia não ser? A história era fabulosa e já existia. Bastava-me ter reunido e conferenciado com o meu pai algumas vezes, a fim de esclarecer pontos da sua história que não estavam tão claros para mim e pôr os dedos a voar no teclado do computador. A história tinha-se contado por si e em muito pouco tempo tinha passado “para o papel” a história de vida que queria contar. Daí à publicação, estranhamente, tudo tinha sido muito rápido. O concurso, o primeiro prémio, o direito a publicar. E a verdade é que a história do meu pai, emigrante em França nos anos 60, tinha captado a atenção do público e tinha sido um pequeno sucesso de vendas. Talvez por isso sentisse a fasquia tão alta com este meu segundo livro. Será que eu tinha sido uma escritora de um sucesso só? Será que não conseguiria voltar a escrever nada com tanto reconhecimento como a história do meu pai? O processo de escrita deste segundo livro tinha sido bem mais difícil que o primeiro, muito duro e penoso. Quantas e quantas noites passara a escrever para apagar tudo na manhã seguinte? E agora tinha o telefone a tocar e o “meu” editor teria em suas mãos, com toda a certeza, o veredicto. Respirei fundo e atendi finalmente. Do outro lado da linha ouvi um “Bom dia, Esperança. Estava a ver que não atendias!” Procurei no tom de voz dele algo que indiciasse o que tinha para me dizer, alguma inflexão na voz que me preparasse para o veredicto que esperava. Mas não consegui descortinar nada! Ouvi, então, as suas palavras, em silêncio. Suspirei de alívio. Era um “sim”. Iniciava hoje a minha segunda viagem como escritora publicada! Perdera o sono! Levantei-me, abri as janelas, dei um grito de vitória e disse de mim para mim: Bom dia, vida boa! Seu comentário será publicado após ser aprovado.
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