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3/18/2022

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Consulta no Dentista

 
por Isabel Gomes
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A corrida para chegar ao carro foi tão cansativa que se atirou lá para dentro como se fugisse de um mundo onde não teria salvação.
Atrasado para a consulta no dentista – ainda tinha vinte minutos de condução pela frente. O telemóvel tocou. Há três meses que aguardava por esta consulta. Não, não vou atender. Olhou para o ecrã. Era Paulo, o amigo que fizera anos recentemente. Conduziu pelas ruas cheias de carros, que ele conseguia ultrapassar sem tocar em nenhum, apesar de ter a clara sensação de que iria roçar a chapa dos outros carros. O telemóvel tocou mais duas vezes, mas já nem olhou.
- Senhor Ricardo, a sua consulta foi cancelada. O doutor testou positivo esta manhã.
Estupefacto e furioso com a notícia, quase não ouviu o resto da comunicação.
- Ligámos para si, mas não atendeu.
Sem dizer uma única palavra, saiu dali. Ainda pôde ouvir a empregada dizer “Ele há com cada maluco…O Covid deu cabo destas cabeças.”
A luz da janela do quarto era agora muito intensa – era o sol de janeiro, em Portugal. Acordou. Alívio.  Foi um sonho. A consulta que tinha nesse dia no dentista ia acontecer. No duche recordou o sonho. Aquela sequência de problemas e o stress que sentira no sonho não eram novidade naquele mês que já lhe tinha trazido alguns dissabores. Quem poderia imaginar que o teto de uma cozinha remodelada há menos de três anos iria desabar na noite de Reis?
Saiu de casa quando faltavam cerca de trinta minutos para a hora da consulta. Ia extrair um dente que o incomodava há muito - a pandemia causava adiamentos sucessivos, mas os seus compromissos de trabalho não permitiam alterações de última hora.
O telemóvel tocou. Lançou-lhe um olhar, curioso e expectante. Era Paula, a ex-mulher. Irritado, suspirou e voltou a olhar para a estrada. No segundo seguinte tinha o airbag em total invasão do seu rosto ensanguentado.
Acordou. Não estava na cama. Sentia o peito apertado, respirava com extrema dificuldade e mal conseguia abrir os olhos, mas percebeu que estava tudo muito escuro. Começou a tossir descontroladamente e sentiu-se enfraquecer. Um estrondo ali perto e pessoas a correr. Mal tinha forças para tossir. Tudo se apagou depois de ouvir “Vamos com muita calma! Temos um teto caído no chão e uma pessoa debaixo dele.”
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3/15/2022

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Visitas Noturnas

 
por Marta Janicas
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Sonhei contigo.
Quem és? Não sei.
Sinto que te conheço, que partilhámos uma história.
Tudo à tua volta é escuro, a penumbra oculta-te o rosto. Nunca te ouvi falar, não duvido de que tenhas uma voz grave e séria. Estás totalmente vestido de preto, como sempre, talvez não te conheça na realidade, mas aqui neste mundo que é só meu, tu já tens lugar cativo.
Não sei o teu nome, honestamente nunca pensei dar-te um, estremeço só de pensar que algum dia terei de te enfrentar.
No sonho nunca me olhaste, nunca te dirigiste a mim.
Vejo-te de um ângulo inferior, como quem admira alguém a passar. Idolatro-te. Fico extasiada quando te vejo passar, altivo e confiante. Acho que não devia expiar-te, mas sinto que é uma questão de vida ou morte.
O teu olhar não se desvia do caminho que percorres, não fazes ideia de que me encontro aqui, mas sabes que não estás sozinho. Quando abrandas o passo até estagnares e fechas os olhos, penso que é desta que vou ser apanhada.
O meu palpitar aumenta, a minha caixa torácica torna-se pequena para tanto bombear, os meus ouvidos não suportam o barulho – pum-pum-pum – frenético. Acredito que, embora não me tenha mexido um milímetro, tu me consegues ouvir. Que és atraído para o meu pulsar.
As gotículas de suor acumulam-se e o desespero começa a instalar-se.
Ainda não retomaste o teu caminhar decidido. Eu não estou preparada. Em breve vais encontrar-me e vais obrigar-me a confessar.
 
- Vai obrigá-la a confessar o quê?
- Esperemos que a resposta esteja no próximo capítulo. Não se esqueçam, amanhã às 19 horas aqui no clube.

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3/14/2022

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Texto de Ana Margarida Marques

 
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Encaro a porta do escritório. A placa "Dr. Esmeralda" enrola-me o estômago numa mistura de má disposição e ódio.
As luzes estão acesas, mas o brilho é quase nulo.
Está sentada no sofá.
-Não consegues conter o ódio que sentes, não é? Pois bem, aviso-te já que a sorte não está do teu lado... Que pena. Deve ser algo extremamente complicado para ti, mas eu tenho mais que fazer.
- Porque é que recebi isto? Já não fiz tudo o que me pediste?
- Mas que voz tão irritante que tens...
A sua mão, engelhada pela idade, procura a arma escondida por entre as almofadas do sofá.
- Esse documento é a tua nova vida. Não há nada que possas fazer para o alterar.
Não consigo conter as lagrimas.
- Não tens o direito de controlar a minha vida! Eu escolho como viver! Deixa-me ser livre e não revelarei o teu precioso segredo.
A sua mão toca o meu rosto. Sinto arrepios por todo o corpo. O suor que escorre pelas minhas costas está gelado.
"Por um momento pensei que estivesse a fazer a coisa certa... Só queria cortar as amarras que me prendem a uma vida de sofrimento".
- Não há nada que temer. Estás segura comigo. Sou a tua salvação!
"Se não fosse ela e o seu dinheiro, há muito que teria perdido aquilo que mais amo".
- Eu sei que tens ódio àquilo - aponta para um maço de notas -, mas achas que eu me vou importar com aquilo que tu sentes? A revolta não tem utilidade para mim. Os revoltados são a escória da sociedade.  Agora deixa-me em paz. Vai-te embora e a caminho da saída pega no teu destino, e por favor, sem lágrimas nos olhos.
- Não! Devolve-me a minha vida!
Estava cega pela raiva.
"Se aquela mulher desaparecer, finalmente serei livre!"
Pego num candeeiro de vidro e corro na sua direção.
Vidros estavam por toda a parte. O seu rosto estava ensanguentado. A sua mão também coberta de sangue ocultava o olho direito.
-Eu prometi que se me trouxesses problemas, teria de me livrar de ti. Não vais arruinar a minha vida!
Apontou a arma na minha direção. Estava condenada à morte.
Senti a bala perfurar-me o peito. O ódio tinha desaparecido, a angústia também. Nada mais fazia sentido... O meu olhar, cego, observava a mulher encharcada em sangue. Gritava em desespero...
A porta abriu-se violentamente. Ouvi passos, e o meu corpo cedeu.
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