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11/27/2020

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Poema vencedor

 

de Isabel Neto

poema, Isabel Neto, saudade

“na hora de pôr a mesa, éramos cinco:”
eu, a minha mãe, o meu pai, o meu irmão mais novo, e um passado.
depois o meu irmão faleceu, e deixou-nos com a flor da idade
passámos a quatro, durante anos, coxeando a juventude arrancada dos passos.
subitamente a realidade tornou-se surreal, dentro da realidade de um outro
e a piedade, não sei de quem, levou quem aguardava há muito a chegada do dia.
já não estava mais aqui, até antes de partir, e a mesa passou a ser posta para um
de cada vez, desfragmentados, desfasados, em união de frágeis nós desatados.
éramos de novo 5, sem ser os mesmos, sem haver uma mesa, uma hora só.
a imensa casa traz-nos muitas mesas, muitas horas, muitos pratos, vazios.
quatro de novo, por culpa de uma mente invadida pela fantasia ruim.
era eu a minha mãe, o meu irmão e um passado, sem mesa posta nem hora marcada.
e agora que nem a minha mãe tenho, deixei de ter passado, e de me ter a mim.
ficou o meu irmão, com a sombra de mim, um passado, e os pratos para si. 

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11/13/2020

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Os Maridos Marias

 

de Ana Parada

maridos Marias, Ana Parada

O maridão estava a arrumar a cozinha e o meu cunhado a ver o pobre coitado, disse que aquilo era trabalho de Marias. Que surpresa! Um homem considerar as lides domésticas como sendo trabalho de mulher. Naquele dia soube que tinha um marido Maria.
Fui criada com rapazes, um irmão e dois primos, e não me lembro das regras serem diferentes. Todos punhamos e levantávamos a mesa. Todos levávamos o lixo lá fora. Todos ajudavámos a limpar o pó. Todos brincávamos com os mesmos brinquedos. Será que meu irmão e meus primos são maridos Marias? Espero que sim!
Na casa de meus pais, a mãe cozinhava e o pai arrumava a cozinha. Eu e o meu irmão púnhamos a mesa. E eu achava aquilo muito normal e justo. Os meus pais saíam e entravam à mesma hora de casa para trabalhar. O meu pai é um marido Maria e eu tenho muito orgulho nele.
Os maridos Maria podem ter férias conjugais porque são independentes das mulheres. Eles sabem limpar uma casa, estão a par das contas que é preciso pôr em dia. Sabem cozinhar nem que seja comidinha simples. Sabem onde estão os pratos, os copos, os talheres e sabem também ir às compras, no fundo, sabem também que se não fossem maridos Marias a vida seria mais pesada para aquelas que amam.
Agora, já mãe, estou criando dois possíveis, futuros, maridos Marias. Se alguma vez uma mulher criada por um pai que é marido Maria iria aceitar ter um filho que não o fosse? Criar um homem dependente de mulher para ter o conforto de uma casa limpa e comida boa?
Se as mulheres tivessem a consciência de que, na maioria dos casos, são elas que educam os homens, de certeza que haveriam muitos mais maridos Marias. Vivam os maridos Marias!

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10/19/2020

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O dia inicial

 

de Raquel Martins

texto vencedor desafio de escrita criativa, Raquel Martins

O telefone tocou e o peito estremeceu.
Do outro lado, uma frequência aguda e contínua subjugou-me os ouvidos e o coração comprimiu-se num soluço abafado.
É sempre assim. Nos momentos difíceis, a voz some-se e a capacidade de cuspir o que me entala não existe. Instala-se uma dor no peito cinzelada a terror e abandono, que se alastra ao corpo e o torna dormente e quebrado. Fico com formigueiros nos dedos e sinto-me fraca.
Ela tinha partido. O dia inicial tinha-nos chegado.
Tinha medo de confessar ao meu coração a hora grave deste dia. Adiei o destino o mais que pude.
A vida não tem nada de indulgente e mesmo assim, talvez seja menos cruel do que a julgamos: – Dá-nos tempo e espaço, para que as asas cresçam nas costas e para que o salto encarpado da vida se faça sem horror, no momento certo. Será isto envelhecer?
Primeiro, foram os esquecimentos, as palavras trocadas, os gestos irrefletidos e incoerentes, as atitudes fora de sítio, que nos deixavam perplexos e confusos. Uma espécie de entorpecimento e abandono que, pouco a pouco, alagou o leito do rio.
Depois, começaste a tratar-me por você e este coração humilhou-se todos os dias um pouco mais.
Não tratamos por você a carne da mesma carne, porque somos um só. Eu e tu - somos a unidade. Dentro da mesma casa, não temos vizinhos.
Comecei a pressentir que a casa se foi estreitando e que à medida que os dias se gastavam, mais uma porta se fechava e um interruptor se desligava, deixando às escuras a alegria dos dias.
Os últimos meses, contigo já ausente, inteiriçada numa cama de hospital, quebraram-me e condenaram-me ao deserto do meu descontentamento. Nunca estamos preparados para a morte e ela está sempre tão perto e atenta a fitar a presa.
Dias felizes do passado, reacendem a lareira das boas memórias, onde me sento e repouso a absorver o calor do amor e das caras lembranças, tão necessário, para que me possa reerguer e continuar a caminhada. A esperança é como os gatos. Tem sete vidas.
Não existem palavras que honrem a morte daqueles que amamos, pois é um pedaço de terra que se esvai entre os dedos. Não podemos impedir que a vida se cumpra. E só se cumpre num fim.
Gostava de te ter aqui, mas sei que a morte só ganha batalhas no esquecimento e esse, não tem fôlego para quem corre depressa. Estás comigo em todas as coisas - um pensamento, uma imagem, uma associação, um sorriso, um lugar, uma flor, uma entoação de voz. Nos dias de resistência e luta. Nos dias de ternura. Na brisa da beira mar. Quando observo o meu filho a dormir.
Viver é continuar. Por ti. Por mim. Por nós.
Um dia, as mãos voltarão a encontrar-se.

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