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3/4/2022

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Impermanência...

 
por Simone Mourão
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é lápide que paira sobre mim, neste que é o meu último dia de "defunto-vivo". Sobrepairam tantos outros mármores, mas é melhor suportá-los sem escrevê-los, pois, a oportunidade é curta para preâmbulos aborrecidos. Eis o introito do epílogo…há muito que não permaneço entre os seres ditos vivos, embora não se possa dizer que eu esteja biologicamente extinto (não, ainda).
Por óbvio, é dura e fria a vida da criatura condenada à “terra dos pés juntos”, mas que ainda respira. Insiro-me numa taxonomia pertencente à espécie vegetativa "Pedis at covis", um tipo mítico que tem um pé cá, neste mundo, e o outro lá no buraco fundo, alguém para quem a finitude da linha é o único horizonte que se avizinha. Ab aeternum os homens malferem-se, de morte ou no coração, e quando assim o é deixa-se de aqui estar, mesmo sem ter partido.  
Melhor abreviar o que sinto, tenho a vista turva, os pés cansados e, sinceramente, preenche-me a ausência de vontade de regressar os ponteiros e correr para trás, em busca do tempo perdido.
Detesto convívios, a única companhia é esta voz estridular de cigarra, com vocação para escrutínios. No decorrer dos anos, aprendemos a coabitar o pequeno recinto, divido com ela o cárcere dos meus pensamentos, o mundo que ora vejo refletido na parede da caverna insalubre, imagens que escondem de mim a realidade que me espreita logo ali, o que há de vir.
Felizes e juntos, eu e esta voz viveremos assim, ou melhor, morremos infelizes assim… ardem-me os miolos, as suas perguntas sobre o que ainda conservo cá dentro. Tudo o que guardo é relâmpago (tenho dito) e o que perdura é a genuína maneira de tentar sobreviver (um dia, ao menos) de esquecimento.  Quase consigo, não fosse a maldita incansável voz avinda do além de mim (a mesma incessante que reza novenas) despertar-me, de hora em hora, obrigando-me a engolir doses rejeitadas de memórias.
Não é necessário, eu bem sei, deixarei de ser o Zé das Couves e passarei desta margem para a outra como o Zé das Couves Mortinho da Silva, um pomposo sobrenome, desses que nunca tive. A riqueza do meu quinhão é consequência de todos os meus pecados; confessei-os, ou melhor, regurgitei-os aos pés do pobre pároco. Quarenta e um. Sou velho demais para lamechices.
Agora que as linhas me faltam, lembrei-me do que me fez derramar aqui estes pingos de mim, quero despedir-me neste papel amassado, improvisado, quiçá formalizar o ato de última vontade (como queiras chamá-lo). Para a voz insaciável, deixo, de bom grado, o meu cérebro inanimado. Por fim, peço ao estimado leitor que não me desperte do sono eterno para dizer-me o que já é manifesto: estou morto, enterrado… deserto, e o que me corrói agora as carnes é muito mais do que o decurso do tempo…
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