Junte-se ao
Clube de Escritores.
Participe nos desafios de escrita criativa
Section divider type: triangleAsym --
position: bottom
por Sissi Mar Laura Filipa lembrava-se que ainda usava laçarotes no cabelo e sapatos de verniz, quando a sua avó lhe oferecera aquele estranho espelho naquele Natal.
- É especial! - disse- Tens que ter cuidado com o que pensas e desejas porque é mágico! Laura Filipa nunca acreditou. Olhava simplesmente para aquele estranho espelho e sentia-se toda ela estranha e intrigada. Um dia, no meio de uma discussão entre os seus pais, desejou desaparecer e ser feliz noutro lugar…. Um lugar onde as pessoas fossem felizes e a fizessem sentir que também ela era especial. Aproximou-se do espelho de lágrimas nos olhos e desejou tão profundamente que a sua vida atual fosse apenas uma mentira. E o estranho espelho transfigurou-se num vortex assustador, cuspiu-a magicamente para um estranho mundo… Um mundo de muitas cores e cheiros, onde os animais falavam e onde as pessoas usavam estranhos fatos pitorescos com estranhos e pitorescos chapéus. Tudo naquele mundo era muito de tudo: muito colorido, muito grande e em que tudo germinava e fluía apenas com as palavras. Ali sentia-se amada e feliz por toda a gente mas especialmente pelo seu estranho mas belo amigo de chapéu alto que a amava incondicionalmente. Laura achou que estava no País das Maravilhas, mas com o tempo verificou tristemente que apenas estava do outro lado do espelho, a esconder-se de si e da sua vida. À medida que se escondia, o seu amigo ia ficando cada vez mais e mais doente de amor até que um dia morreu e com a sua morte o seu mundo que pensava ser perfeito, ruiu também. Nesse dia, Laura desejou tão profundamente refugiar-se e assim o espelho cuspiu-a de novo para a torre mais alta do seu coração e ali ficou à espera de quem conseguisse subir os muros também altos que ela própria erguera. Enquanto esperava, reclusa de si mesma, entrançava os seus longos cabelos em dúvidas e incertezas, mas também em esperança. Todos os dias esperava mais um pouco…. Esperava apenas na certeza de quem a conseguisse salvar. Sentia-se uma Rapunzel, mas nesses estranhos dias de espera ninguém a conseguiu libertar dos muros altos que construíra em torno de si mesma. Desfeitos os muros, poderia ser amada como queria e merecia ser! Farta de esperar, e à medida que se tornava uma linda mulher, resolveu cortar as pontes das dúvidas que a mantinham entrançada em rejeições e olhou-se de novo ao espelho, agora com outros olhos. Chorou por continuar a sentir-se nada e desejou ser tudo o que nunca conseguira ser. E apenas disse…. -Espelho meu, espelho meu, quando serei apenas eu? E o estranho espelho respondeu-lhe: - Olha para trás de ti! Quando olhou, Laura viu então o que mais ninguém conseguira ver e nem mesmo ela durante tanto tempo: tinha umas asas magníficas que lhe permitiam voar por si mesma sem a ajuda de ninguém. Todos os seus momentos de reclusão lhe tinham permitido crescer, ajudar-se e sobretudo amar-se. Era um Neflim e já não precisava do estranho espelho mágico que a fizera viajar na sombra de si mesma. Your comment will be posted after it is approved.
Leave a Reply. |
Desafios de escrita criativa
Este é o espaço onde publicamos os textos dos membros do Clube de Escritores. Histórico
Novembro 2022
Categorias |
1/24/2022
0 Comments