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Abordaram a minha mãe num café enquanto as três lanchávamos numa pastelaria da cidade. Disseram que precisavam de crianças que participassem numa sessão fotográfica para uma revista de venda de roupa. Neste caso era a La Redoute que era apenas, em França, a revista que mais roupa vendia nos anos 80. Disseram que correspondíamos exatamente ao tipo de crianças que procuravam. O protótipo da criança, feliz e saudável, que queriam para vender as suas roupas de verão. Eu, na época, com uns “redondinhos” 4 anos e a minha irmã com 10.
A minha mãe, desconfiada por natureza dos franceses, não lhes quis dar muita conversa. Ainda que, nessa altura, já dominasse bem a língua francesa, receava que algo lhe estivesse a escapar do diálogo e que estivesse a entrar num qualquer negócio meio estranho que, de algum modo, nos poderia prejudicar. Sabe-se lá? Ouve-se tanta coisa por estes dias! - Eram os seus pensamentos. Ainda assim, e depois de muito pensar sobre o assunto e de se aconselhar com outras pessoas, acedeu a ir visitar os estúdios em que iriam decorrer as sessões fotográficas, contactar com aquele mundo desconhecido, mas que, ainda assim, lhe provocava alguma curiosidade. No dia combinado lá fomos nós visitar os estúdios e, se assim concordasse a minha mãe, fazer as primeiras fotografias. A verdade é que a minha mãe acabou por ficar convencida e lá fomos nós vestir as roupas para a sessão fotográfica. Dizem que nesse ano se usava muito as jardineiras calção ou a calça e camisa em conjunto. Não sei se é verdade, mas sei que esta foi, das várias fotos e roupas que vestimos, a que mais gostei (ainda hoje gosto de roupas coloridas). Diz a minha irmã que eu não estava a colaborar muito com a fotógrafa e que por isso me deram o palhaço que se vê na foto para me deixar mais feliz. Ainda assim, assumo que o sorriso não é o mais rasgado… O penteado, esse, é mesmo obra da minha mãe. Achava que tínhamos um belo cabelo para aquele “chinó” meio desfeito e sempre gostou de nos vestir e pentear não de um modo igual, mas bastante semelhante para que ficasse claro o sentimento de pertença, de família, de identificação de irmã com irmã. Tudo isto que acabo de vos contar poderia ser, de facto, a verdadeira história do glorioso hino aos anos 80 que é esta fotografia. Mas a verdade é que nada disto é verdade. A foto foi tirada, de facto, no estúdio de um fotógrafo. Apesar de pertencer a um pequeno álbum de fotografias capturadas nessa sessão, é a única em que estamos com estas roupas que poderia definir como: “à civil”. Nas outras encontramo-nos a envergar uns fabulosos vestidos brancos até aos pés, que a minha mãe, costureira de profissão, tinha criado para nós. Um para a minha irmã, que ia celebrar a primeira comunhão, e outro para mim, apenas porque a iria acompanhar (e porque, provavelmente, também queria um vestido “de noiva” só para mim!) Para a história da família alargada ficaram as várias fotos tiradas com os “vestidos de noiva” (que vos deixo, também em anexo). Os avós, os tios, todos tinham nos seus álbuns uma destas fotos, diligentemente enviadas pela minha mãe, para mostrar o quão bonitos estavam os seus rebentos naquele dia. Eu, contudo, continuo a preferir a foto que parece retirada de um qualquer álbum de vendas de roupa por catálogo dos anos 80! Umas ou outras servem, acima de tudo, para relembrar a minha infância e a da minha irmã, e relembrar o olhar doce e inocente que ambas envergávamos na época. Your comment will be posted after it is approved.
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Novembro 2022
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