Junte-se ao
Clube de Escritores.
Participe nos desafios de escrita criativa
Section divider type: triangleAsym --
position: bottom
por Estefânia Barroso “Para sempre. Aqui estou”. Estas tinham sido as palavras da sua mãe naquele dia fatídico. Aquele dia que ficou gravado na sua memória ainda de menino. Como o poderia esquecer? Tanto tinha sido vivenciado naquele dia! A expetativa da viagem, de visitar uma cidade grande, de visitar o Museu da Marioneta. Perspetivava-se uma grande aventura! E o dia tinha sido mesmo como ele esperava: a viagem de comboio tinha sido mágica, tinham almoçado num jardim, partilhando o farnel que tinham trazido com eles, e o Museu era, simplesmente, maravilhoso! Carlos e a mãe voltavam para a estação de comboio, a fim de regressarem a casa, de coração cheio por este dia tão diferente, tão preenchido e pela intensidade destes momentos vividos a dois.
Contudo, de um momento para o outro, todo aquele cenário se alterou. Pelas ruas que calcorreavam em direção à estação, uma simples manifestação e um mar de gente tinham gerado o caos à volta deles, as mãos dadas tinham-se separado e Carlos encontrara-se sozinho, perdido no meio da multidão. Que medo sentiu naquele momento. Olhou para a esquerda, para a direita, para todos os lados e apenas via caras estranhas, caras que não reconhecia e que, por isso, o assustavam. A cidade é tão grande – pensava ele. Estou perdido. Nunca mais vou regressar a casa, nunca mais vou ver a minha mãe! Mas, depois de um tempo que pareceu uma eternidade, que tanto poderia ter sido cinco minutos como uma hora, no meio daqueles estranhos todos, a mãe, aquela mulher linda e meiga, materializara-se à sua frente e, abraçando-o, disse-lhe: “Não chores, meu amor! Aqui estou! Estou agora e para sempre! Aqui estou!”. Carlos sentira que o Sol voltava a brilhar, que o mundo tinha voltado a entrar nos eixos. Nos braços da mãe não havia perigos que o pudessem atingir! Carlos relembrava este dia, enquanto olhava para a sua mãe, naquela cama. Pela primeira vez na sua vida, tinha dificuldade em olhar para ela e reconhecer a bela mulher que fora. Os olhos encovados, a extrema magreza, o cabelo, outrora forte e loiro, hoje mais não era do que alguns fios brancos e ralos espalhados pela cabeça. A respiração era esforçada e muito fraca... Pareceu a Carlos que a mãe tinha adormecido e tentou libertar-se da sua mão, dos seus dedos entrelaçados, para a deixar descansar. Porém, a mãe abriu os olhos, segurou a mão do filho com maior firmeza do que seria de esperar naquele corpo tão fraco. Não me deixes, Carlos, agora não. Tenho medo de ficar sozinha! Carlos sentiu os olhos humedecerem-se e tentou controlar as lágrimas que queriam saltar-lhe dos olhos. Apertou a mão da mãe com um pouco mais de força e disse-lhe numa voz trémula, de quem sabia que o tempo começava a escassear para ela, mas que pretendia apaziguadora: Não mãe, não deixo. Estou aqui. Para sempre. Aqui estou! Your comment will be posted after it is approved.
Leave a Reply. |
Desafios de escrita criativa
Este é o espaço onde publicamos os textos dos membros do Clube de Escritores. Histórico
Novembro 2022
Categorias |
11/17/2022
0 Comments