Poema de Vandunen Yanagui

Eu tinha de voltar àquela cidade.
Os dias passavam, as noites chegavam,
Esta ansiedade crônica com que vivo, afasta o sono, 
Este pensamento constante, não me larga,
Deixando um peso enorme no meu peito.
Eu tinha de lá voltar!
Talvez seja assim com toda a gente.
Talvez haja um momento na nossa vida,
Que temos de ir até ao ponto de partida,
Para podermos orientar o nosso futuro.
Avaliar onde chegamos e perceber,
Para onde queremos ir,
Onde queremos chegar.
Talvez seja assim.…
Eu tenho de lá voltar!
Voltar a sentir aquele chão,
Ouvir os meus passos sobre os paralelos.
Percorrer as travessas, as ruas
E dobrar as esquinas.
Inspirar os perfumes, cheiros e odores,
Que me guiavam, e orientavam
Naquele percurso matinal,
Que me levava de casa para a escola.
Abrir novamente o mapa solar,
E reconhecer a posição do sol,
Reencontrar os melhores lugares
Do sol no inverno,
Das melhores sombras do verão.
Tocar nas paredes de pedra que ecoavam,
As nossas gargalhadas de crianças.
Não sei...não sei se será assim.
Talvez esta seja apenas a parte,
Que me distrai das recordações,
Das saudades que tenho de ti.
Voltar aquela cidade será voltar a sentir-te!
Sentir, lembrar e voltar a dor de já não te ter.
Voltar aquela cidade, será voltar a ti!
Vaguear pela cidade será como percorrer
O teu corpo, cada recanto teu.
Voltar a sentir o teu perfume pelo ar,
Ver aqui e ali o teu sorriso para mim.
Lembrar do teu perfil contraluz do por do sol,
No miradouro onde ainda o vento,
Talvez me traga ao ouvido sussurrando
As nossas promessas eternas de amor.
Reviver aquelas loucas noites quentes,
Ouvir a tua respiração naqueles becos,
Onde não chegava a luz, a lua não espreitava,
E os teus gemidos eram apenas ouvidos pelo mar.
O teu corpo, o teu abraço, os teus beijos...
Tantas saudades de ti meu amor...
Sei que não vais lá estar,
Sei que não vais voltar,
Não sei como será…
O meu paraíso era ali,
Mas tenho de lá voltar.
Esta dor tem de lá ficar.