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3/11/2022

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Texto de Catarina Fonseca

 
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Ilustração de Catarina Fonseca
A última vez que vi o Duarte foi no aniversário da Rosa. As férias de verão aproximavam-se do fim, e para cumprir a tradição da família rumávamos ao Gerês, santuário de frescura quando a pele dourada por agosto pedia descanso. A Rosa fazia questão de comemorar o aniversário com um piquenique. Toalhas ao xadrez, panos com galos de Barcelos e corações de Viana, e conversas regadas com vinho dos avós. Dão, branco, com toda a certeza. Nas toalhas estendidas entre as conversas esmigalhadas em broa de milho, enchidos e pasteis de bacalhau, as nódoas passavam sussurradas de geração em geração. Palavras amargas em dia de festa, pois nas festas tudo lembra e não há um cantar de parabéns sem uma revisão ao passado, o das receitas e o dos acasos que fizeram da família Ramos o que ela realmente é. É o que é.
- Ninguém brinda? Daqui a nada está tudo empapado.
Duarte deu uma gargalhada estridente, e antes que os copos se enchessem e a chuva fosse do mais puro néctar recordou-se da casa da Oliveira, onde por alguns anos foi feliz. Era uma casa grande, pintada de branco, assente no granito da beira. Ficava num alto de onde se podia ver a aldeia, dando a quem lá morava o consolo suficiente de observar sem poder ser observado. As janelas, recuperadas da extinta escola primária, poucas vezes se abriam, mas as cortinas corridas deixavam entrar o sol, deixando sair do pensamento de Duarte capítulos do livro que tencionava publicar antes do fim do ano. Duarte escrevia, revia e ia com o texto crescente acumulando esperança.
Era uma casa grande, com quintal nas traseiras e jardim na frente. Carvalhos, pinheiros mansos, medronheiros e loureiros, que em porte rivalizavam com a intensidade das hortênsias azuladas e o perfume altivo e sedutor das rosas trepadeiras.
Um cão, três gatos e um vaivém de visitas que tornavam infindas as noites de sexta e os finais domingueiros.  Pouco dado a manifestações políticas e religiosas, Duarte era bem visto na terra, sendo consultado e convidado a dar opinião sobre os mais diversos assuntos.
A mulher, Laura, morrera poucos anos após o casamento. Duarte não pensava em voltar a constituir família, mas a prima Rosa era uma tentação. Branquinha, cabelos curtos dourados, olhos grandes. Falava pouco, mas falava bem e isso, para Duarte, era isco suficiente.
- Então, brindamos ou não?
Duarte olhou para Rosa e levantou o copo.
- Saúde!
 
Rosa corou e depois de alguns brindes deixou-se escorregar na erva fresca, detendo o pensamento entre a copa das árvores e a imensidão azul do céu. Quanto ao corpo, o vestido rodado e florido tinha subido à altura dos joelhos, e os pés descalços deixavam-se salpicar pela corrente próxima do ribeiro.
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