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Regressos...
Eu tinha de voltar àquela cidade! Eu tinha que voltar àquela cidade que tinha assistido à primeira golfada de ar que tinha enchido os meus pulmões, ao meu primeiro grito para a vida mascarado de choro, ao primeiro olhar embevecido da minha mãe para o seu novo rebento. Não sabia quando, não sabia como, mas tinha de voltar! Foi este o primeiro pensamento a cruzar a minha mente naquela manhã. Quis o destino – ou melhor – a vida dos meus pais, que o meu primeiro olhar para o mundo, assim como os meus primeiros anos de vida fossem vividos em França, numa cidade situada perto dos Alpes – Chambéry. Apenas vivi lá os primeiros anos da minha vida. Com pouco mais de 6 anos, fizemos o que muitos emigrantes decidem fazer, e regressámos a Portugal. Aqui chegados, as bagagens foram pousadas na cidade da Covilhã. Curiosamente, a única semelhança que se poderia encontrar entre as duas cidades – a francesa e a portuguesa – era o facto de serem cidades encostadas aos pés de montanhas e, como tal, as visitas à neve serem algo mais ou menos recorrente. De resto, as duas cidades dos inícios dos anos 80 não poderiam ser mais diferentes. Aliás, o Portugal dos anos 80 em nada se parecia com a França daquela época. A velha ideia de que Portugal tinha um atraso de mais de 40 anos em relação a outros países da Europa não poderia ser mais verdadeira, pelo menos neste caso… Contudo, ainda que o choque cultural fosse enorme, não poderei dizer que não gostei de Portugal e que não me tenha sentido em casa. Afinal, o meu sangue era português e este era o meu lugar. E, por estranho que pareça, ou porque de facto as crianças optam sempre por tirar o melhor partido daquilo que a vida lhes traz, rapidamente aceitei este país e a Covilhã como a minha nova casa e releguei para o esquecimento aquele país e aquela cidade. Cresci e a vida foi decorrendo entre muitas vilas e cidades portuguesas. A minha profissão a isso me obrigou. Em todas deixei um pouco de mim e do meu coração. A todas tratei como “lares substitutos” da minha Covilhã. Em momento algum, até há pouco tempo, senti saudades daquela primeira casa, em França. Até ao dia em que, e sem nada que o fizesse prever, sonhei com Chambéry. Sonhei com a sua zona histórica, com as suas ruas pitorescas, a sua Place des Éléphants, o seu castelo…passeava-me pelas ruas com uma sensação de leveza como quem se sente a pairar, sentei-me em esplanadas deliciando-me com um éclair au chocolat, observei os transeuntes não com o olhar de um visitante, mas com uma sensação de pertença àquelas ruas, àquelas velhas pedras. Acordei com uma sensação de paz, de quem tinha regressado de uma bela viagem. O primeiro pensamento que passou pela minha mente foi esse mesmo: “Tinha de voltar àquela cidade”.
Sara Jesus
10/20/2021 01:53:33 pm
Quantos vezes não quisemos às cidades sonhadas? Já sonhei com cidades que nunca visitei. Ou talvez as visitado noutra vida. Parabéns Estefânia! Gostei muito da sua abordagem.
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