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10/8/2021

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Texto de Raquel Lopes

 
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Naquele dia, as vozes tornaram-se mudas.
Mais uma semana começava. Sentiu-se estranha na ida para o consultório. Aquele silêncio provocou-lhe um vazio no peito.
Mariana, uma jovem psiquiatra, vivia de forma diferente. Um acidente de viação, aos 5 anos de idade, atirou-a para um coma de 2 anos. Ao acordar, a jovem dizia sentir muito barulho na cabeça.
Após algum tempo de consultas com diagnósticos inconclusivos, a jovem teve de aprender a viver com todo o burburinho que ouvia. Quando sozinha, essa confusão não se fazia sentir, e a intensidade era proporcional ao número de pessoas à volta. A percepção dos pensamentos melhorava com a proximidade das pessoas. Algo que a deixava atrapalhada. 
Mariana isolava-se bastante. Passava horas a ler ou a pesquisar sobre o seu problema. Mas nada trazia respostas.
Fez o curso de medicina e escolheu psiquiatria como especialidade. A forma perfeita para dar alguma utilidade à sua capacidade de leitura dos outros, tornando mais eficazes as terapias.
Tinha dias esgotantes. Os pensamentos surgiam como cavalos assustados. E, na volta, já nem sabia se eram os seus ou os dos outros. Facilmente se instalava o caos, e só o isolamento lhe devolvia o equilíbrio ansiado. 
Saber o que pensavam dela também não era o seu sonho. No entanto, não existia um filtro para o fazer.
Incomodada com o silêncio, trocou o percurso e entrou no Café Central. Nada. Absolutamente nada. O café à pinha, as pessoas acotovelavam-se para chegar ao balcão. Uma autêntica confusão por pastéis de nata, ainda mornos salpicados de canela e açúcar em pó. E nada. Apenas silêncio na sua cabeça. 
Mariana sentiu-se despida, vazia, sem graça. A alegria que julgava sentir, quando esse dia chegasse, não morava ali. Soube desde sempre que podia acontecer. Nunca acreditou que fosse possível. 
O tumulto de pensamentos que lhe fez companhia e a deixou perdida tantas vezes tinha terminado. 
Nesse dia, as vozes tornaram-se mudas para sempre.
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