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10/14/2021

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Texto de Ricardo Leão

 
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Ora et somnium

Eu tinha de voltar àquela cidade. Às filas sem fim de exasperar no longo aguardo pelo vislumbre da escadaria onde uma professora, alegadamente, se inspirara para criar o bruxo mais famoso da história, logo depois do ilustre e sapientíssimo Gandalf. Aos gelados deixados a derreter no mau feitio de uma quietude digna de autocracia, que enraizara uma comitiva à calçada d’antanho e cobria o basalto com uma engordurada, porém nada escorregadia, preguiça perfumada de despeito. Ao dia em que o ovo da varejeira da discórdia começou a incubar, até devorar uma quádrupla vivência de amizade. A cidade, a segunda maior do retângulo, deixara-me cinzento e bisonho.
O tempo ajudou a compostar os resquícios de sorrisos e choritos, soterrados em preços inflacionados para ascender a uma torre bela e ventosa demais para o bem dos incautos. E a fraca memória da inércia de afetos refrescou a probabilística de uma cidade coberta de fuligem birrenta ser palco de acepipes encantadores de cárdios.
Por isso, fiz-me aluno dos dias e convidei a passeio, não a mãe do bruxo, galáctica, minha desconhecida, mas a amorenada e ibérica progenitora de um cluricaun ou leprechaun, como dizem lá nos prados do Eire, que abrira uma escola para seres sobrenaturais, onde eu entrara há semanas. Sem escadarias, fizemos dos passadiços o berço de uma sintonia, e tocámos, por entre as copas de pinhos e robles, uma sonata de arrepios e antecipações de tremores de fremires futuros. Apenas com as pontas dos dedos e os olhares, que os demais sentires eram ainda tímidos para tão notáveis façanhas quanto as que povoavam o meu imaginário e o seu breviário de possibilidades.
Entretanto, uma alavanca de remelas escancarou as minhas órbitas e amanheci, estremunhado. Em modo automático, deslizei até ao lavatório e esbofeteei o meu rosto de sonhos inchado com a água da responsabilidade. Enevoado, com gotas escorrendo, o carão esbranquiçado do lado de lá do vidro polido devolveu-me a caricatura de um sorriso. Porém, era uma curva ascendente embevecida com uma qualquer ideia que patinava por ali com a insistência de uma aragem de fim de dia. Mas era manhã. Quer dizer, há quatro horas. E essas não tinham músculo para segurar o Morfeu pendurado nas minhas pálpebras, nem o careto convertido a sulistas inclinações. Invicto e sem mácula, como o passeio onírico de antes, lavei as presas. Deslizei pelos lençóis. E orei ao deus em que não creio pela saudação matinal aquecida pelo Suão dos acreditares.
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