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Nada aconteceu. Não houve um apagão, um alinhamento dos planetas, uma catástrofe mundial. Absolutamente nada. Apenas a minha cabeça que explodira por todos os lados, havia vários dias, como se de repente o meu pequeno cérebro expandisse para um t5.
- Vai querer açúcar? – respondi com um grunhido, demasiado tarde, levando a empregada de unhas berrantes e rabo-de-cavalo a questionar a minha sanidade mental. Não era, contudo, a única que o fazia, pois o motivo da minha demora foi precisamente a tentativa desenfreada de perceber se a sua voz saía da sua boca ou da sua testa. Escolhi o canto mais afastado do ruído, como se tal fosse possível. Se não era habitual cafés pacíficos, mais incomum ainda eram as mentes silenciosas. A minha nunca o fora e agora percebia o quanto era vulgar. Apenas aceitara encontrar-me ali, porque ele e os seus olhos profundamente azuis assim o insistiram. Mexi o café nervosamente, com uma das mãos a massajar as têmporas. – Sabes que os podes bloquear, certo? – Derramei o café num sobressalto. Por que raio não o “ouvia”? O seu ar era meio divertido, meio pensativo, talvez preocupado que o meu cérebro explodisse naquele momento com tantas perguntas. Então ele sabia? Também conseguia ouvir? Era por esse motivo que a sua mente era tão silenciosa? Desde quando me ouvia? Desde quando sabia que eu era embaraçosamente apaixonada por ele? Não, não queria ir por ali, não queria que ele soubesse mais... – Como faço para bloquear, diz-me por favor? – A voz esganiçada combinava com minhas faces vermelhas, e teria fugido dali não fossem as suas respostas vitais para mim. - Com força de vontade, mas talvez devas saber que intuito não é bloqueares, mas sim receberes. Sei que é desconfortável, mas o nosso papel é abrir ao mundo e não contrário. - Se assim fosse eu conseguiria ouvir-te, porém és o único silencioso para mim. – Num meio sorriso, estendeu a mão. – Não queria invadir-te – Declarou. O seu toque queimou como brasa, mas foi a suavidade do seu pensamento que me arrebatou por completo. Tivemos a conversa mais intensa, porém mais silenciosa de sempre. Fiquei a saber que não era a única naquelas circunstâncias, que cada vez mais pessoas transcendiam a esta capacidade, como um sexto sentido que desabrochava. Aprendi também o nosso propósito e como poderíamos ajudar a humanidade. Porém, ao contrário de mim, ele não tinha vergonha, não queria esconder nem fugir a sete pés. Nada me deixou mais rendida do que a constatação dos seus sentimentos por mim. O seu comentário será publicado depois de ser aprovado.
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Novembro 2022
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10/8/2021
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