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por Raquel Lopes Riade, 12 de janeiro de 2000
Um ano neste antro de injustiça, onde a mulher é tratada como um ser acéfalo. Recuo ao dia em que entrei. Olhares de nojo fitaram-me a cada trocar de pés, até ao cubículo onde me instalei. O sol apenas chegava por uma frecha. A comida, aquecida pelo calor desértico, sabia a sofrimento. As paredes transpiravam um assédio amordaçado pelo medo de morrer. Cheirava a perversão. O pânico paralisava-me. Trincava o choro a cada “não” suplicado em surdina. Gritos de violação intercalados com ordens atrozes ainda ecoam na minha cabeça. Um mês naquele inferno, onde o ar me pesava mais que a consciência. Esperavam que vergasse — o que nunca aconteceu —, e acabei mudada para este caixote de lixo, com vista para o deserto. Mudei de alcova, mas a repulsa manteve-se. O abuso apenas era discreto. Amanhã este sufoco acaba. Das várias formas possíveis, calhou-me a decapitação. Morrerei plena. Adúltera para eles, para mim nunca. Casei sem pedir e não consumei essa união. Tomou-me o corpo, mas não me tocou a alma. Ele sabia-o e odiava-me por isso. Sempre amei Kamal. Fui perseguida quando decidi abandonar o palácio. Ele acabou morto aos meus pés, com duas balas cravadas no peito. Pedi o mesmo destino. Sorrio, pois em breve estaremos juntos, sob a proteção de Alá. Não é castigo, nem foi um crime. Uma mulher é tão adúltera por amar outro homem como um homem é inocente por violar uma mulher. O adultério será uma realidade enquanto as mulheres sauditas não tiverem voz de si mesmas. Até sempre. Zaya Your comment will be posted after it is approved.
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