M Teresa Dangerfield Nunca percebera por que razão tinha horror a portas fechadas. Sentia-se claustrofóbica, como se não apenas as portas, mas todos os espaços em seu redor se fechassem, enclausurando-a para sempre.
Naquele dia estava de visita a um mosteiro. Adorava o silêncio aveludado que aqueles claustros proporcionavam. Dada a hora, ainda não se viam turistas deixando os seus ecos menos respeitosos àquele lugar. Por isso, apenas absorvia o ar cristalino da manhã, o perfume aconchegante das flores bem tratadas que rodeavam o centro do claustro e o canto conciliador de alguns pássaros que, decerto, também tinham adotado aquela tranquilidade. Por momentos, Rosa fechou os olhos e deixou que os primeiros raios de sol matinal lhe banhassem o rosto e o coração. Sentou-se no chão de pedra junto a um canteiro. Não percebeu como, mas sentiu-se transportada para um lugar que não conhecia. Via árvores e flores por todo o lado. O seu corpo era leve e parecia agora transparente, radiando luz. Os cabelos longos e louros flutuavam, mesmo sem se perceber qualquer brisa. Não conseguia descrever a paz e a sensação de amor que sentia. Apenas caminhou, em direção a uma luz mais distante. Percorria, entre árvores frondosas, um caminho de cristais e flores tão extraordinários que não encontrava palavras para descrevê-los. Mas algo a intrigava: cada passo que dava parecia tornar mais distante a luz que via ao fundo do caminho. Virou-se para trás. Viu uma porta. Seria uma armadilha? Estaria prisioneira? Não conseguia pensar. O coração batia descompassadamente e dizia-lhe que não poderia retroceder. O melhor seria caminhar em frente, custasse o que custasse. E, assim, caminhou, caminhou e caminhou. Mas esse caminho parecia não ter fim. Deu voltas e mais voltas, todavia o caminho era sempre o mesmo, como se estivesse numa sala cheia de espelhos. Não podia ficar ali, disso tinha a certeza. Foi então que pensou que a única solução, contrariamente ao que sentia, seria enfrentar o seu medo. Lá estava a porta, igual a todas as que temia. Respirou fundo e aproximou-se dela. A mão direita, trémula e suada, rodou a maçaneta. Do outro lado, um espaço maravilhoso, cheio de flores e cristais, que parecia expandir-se a cada passo seu. Havia outra porta mais distante. Dela irradiou a luz mais brilhante que jamais vira, envolvendo num abraço o seu corpo, também ele luminoso. Estava num espaço com duas portas fechadas, mas, pela primeira vez, sentia-se protegida, segura. Que mais poderia encontrar do outro lado da porta que ainda não abrira? Resoluta, encaminhou-se em direção à segunda porta. Mal alcançou a maçaneta, sentiu alguém tocar-lhe no ombro. Abriu os olhos. Afinal, estava no claustro onde tudo começara naquela manhã. Alguém lhe pedia para se levantar do chão, já que vários grupos de turistas começavam a chegar. Ainda sem perceber bem o que se passara, Rosa sentiu-se segura de algo: nem todas as portas nos enclausuram.
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Dezembro 2024
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