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12/12/2024

1 Comentário

 
António Lebre de Freitas
Fotografia
É tão absurdo dizer que um homem não pode amar a mesma mulher toda a vida, quanto dizer que um violinista precisa de diversos violinos para tocar a mesma música. (Honoré de Balzac)
 
Entrei no bar sem qualquer presunção. Apenas me apetecia uma bebida. Qualquer ela fosse. A tarde fora um desastre e só tinha um fito: beber!

Beber algo que me tolhesse a mente e parasse os insultos que me dava a todo o instante. Acenaram-me do fundo da sala e caminhei para lá. Antes, pedira um whisky qualquer ao barman. A bebida e o som de fundo do Aznavour era tudo o que desejava.  Sentei-me e vi-te. Um músculo da perna deu de si. Um calafrio percorreu-me a espinha. Sentei-me à tua frente. Entre ver-te e perceber que teria encontrado a mulher da minha vida foi um instante.

Só se os astros se alinhassem contra. E caíssem sobre mim. Aquela a jura que de imediato fiz a mim próprio.
Até Aznavour na canção que desfiava dizia:
 
Et si l'humble garni / Qui nous servait de nid / Ne payait pas de mine
C'est là qu'on s'est connu...
 
Mas, não sei porquê, recordei Amália, e como eles se embrenharam num caso amoroso. Terá sido o que espoletou as duas seguintes horas? Em que desfiámos sonhos, despimos algemas, espreitámos emoções. Momentos houve em que nos sentimos escolhidos, tal era a sintonia, para viver aqueles instantes. Que não acabaram. Porque não deixámos que se fossem?

A voz rouca do cantor que continuava no ar, mantinha o incentivo. Mas Amália, na mente, dizia-me que os escombros de uma partilha fugaz jazem facilmente sobre uma qualquer toalha branca. Um prenúncio? 
 
Olhos brilhantes suspensos no sorriso, gestos, expressões, memórias doces. Tudo sob a neblina da ternura.
 
Os Deuses, decerto, bafejaram o tanto amor que ali se despejava. Pelo menos foi isso que entendi. Apesar de não ser grande adepto destas sintonias.

Acordei e vi-te a meu lado. Afinal não sonhara. Eras de carne e osso e… sorrias-me. Tentei ser eu. Mas qual - pensei - o de ontem, ou aquele que sou realmente?

Os meus olhos piscaram, os teus falaram: Quem és tu, além de um amante… assim-assim? Antes de responder, ouvi um som vindo da sala. Tinhas-te levantado e puseras Brel. Lembrei-me de outras conquistas. Nenhuma me dera um acordar tão doce:
 
Ne me quitte pas / Il faut oublier / Tout peut s'oublier / Qui s'enfuit déja / Oublier le temps / Des malentendus…
 
Ah! Brel! E os seus temas poéticos e penetrantes!...
Fui para o outro encontro de cabeça lavada. No mesmo bar, à mesma hora, e já com um whisky servido… para os dois.

Fiquei surpreendido com a leveza do teu corpo e a melodia que ele falava. Esta, a palavra exata. Fiquei inquieto, depois percebi: também ansiavas por ver o meu corpo dançando. Bebi um trago maior, puxei-te para o pequeno corredor entre mesas. E enlacei-te. Um vislumbre de ontem trespassou-me. E gostei. Como adoraram os clientes nas outras mesas. Enquanto Piaf nos dizia, também:

Non me quitte pas.
1 Comentário
Teresa
12/12/2024 03:40:41 pm

Adorei este texto e a ligação com a música. Parabéns ao autor.

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