Há momentos em que tens a certeza de que és o pior escritor do mundo, e em que nada do que escreves parece ser bom ou, sequer, razoável? O caminho para a aceitação da tua escrita pode ser tortuoso, mas acreditamos que os nossos conselhos te ajudarão a chegar a bom porto. 1. Aprende o que é boa escrita e quais as suas técnicas. Existem técnicas de escrita e tu podes aprendê-las, a única coisa que não te podem ensinar é a paixão, o empenho e a emoção que colocas no teu trabalho. No nosso workshop "Escrever um livro", abordamos as técnicas necessárias para a redação de uma obra de qualidade. 2. Não te censures porque a tua prosa não é "erudita". A prosa literária tem muito mais de talento do que de aprendizagem. Há escritores que conseguem escrevê-la, outros não, mas esta não é a condição para ser um escritor de sucesso. Existem inúmeros bestsellers cuja narrativa passa pela observação de um conjunto de técnicas de escrita criativa, como Harry Potter ou os livros de Stephen King. 3. Descobre que tipo de escritor és. A maioria dos escritores escreve ficção comercial, mas também existem aqueles que escrevem ficção literária. Ensinamos-te as diferenças: Ficção literária - foca-se mais no conflito interno do que no externo. O ritmo da narrativa é lento e as personagens são bastante profundas. Recorre à prosa literária e a técnicas artísticas inconvencionais. O autor deste tipo de obra escreve pela arte e não para subsistir. Apostamos que um dos primeiros nomes que te ocorreu foi José Saramago. Ficção comercial - foca-se mais no conflito externo e tem como principal objetivo entreter o leitor. O ritmo da narrativa é mais rápido, de forma a prender a atenção. A escrita é clara, simples e dispensa artifícios poéticos. O objetivo do escritor de ficção comercial é fazer carreira e subsistir escrevendo livros. 4. Não és José Saramago nem António Lobo Antunes, e está tudo bem. Não te compares com outros escritores nem definas metas irrealistas para um início de carreira. Na verdade, existirão sempre escritores melhores do que tu e isso não deve ser motivo para atirar a toalha ao chão. Escrever não é uma competição. Faz o melhor que consegues e orgulha-te disso, um dia serás o escritor favorito de alguém. 5. Existirão sempre escritores piores do que tu. O contrário do que escrevemos acima também é verdade, mas a tendência é de que te compares com alguém melhor do que tu. No entanto, lembra-te que existem maus escritores com livros publicados - às vezes de sucesso - porque não deverás publicar o teu? 6. A tua ideia parecerá sempre pior no papel. Este é um facto que terás de aceitar: a tua ideia parece sempre melhor enquanto não a passas para o papel. Nem sempre as palavras conseguem traduzir de forma fiel o que imaginaste, por isso faz o melhor que puderes. Encarna a personagem e abusa dos sentidos. Mesmo que a ideia perca algum encanto, não significa que seja má. 7. Relaxa. Tira o peso de cima de ti ou corres o risco de bloquear. Diverte-te a escrever, não penses no próximo passo. Um dia, alguém te dirá que gostaria de escrever como tu. E tu, como lidas com a tua escrita?
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Desta vez, publicamos um texto de uma das participantes no desafio "30 dias de escrita criativa". Parabéns, Carla Gonçalves! "Ela levantou-se, atarantada, uma sensação de peso no peito, desconfortável e sufocante. Iria tirar as cartas uma vez mais e aguardar. Depois de uma semana, não fazia outra coisa senão esperar.
Sempre tinha ouvido a sua avó dizer que a vida era uma carta fechada. Mas ela teimava em abrir outras portas. Insista nos sinais, nas coincidências e déjà vues que ninguém mais reconhecia. As cartas vinham desvendando e confirmando esses sinais. Talvez não estivesse a colocar a questão certa. Voltas e mais voltas. Num ritual que imaginava ser o correcto, estendeu a toalha bordada a motivos indianos e de cores sombrias. Acendeu o incenso nag champ, hoje em dia vendido em qualquer drogaria. Baralhou as cartas, estendeu-as em meia-lua e escolheu cinco. Lince, falcão, esquilo, coiote, aranha. Liderança, minúcia, trabalho árduo, cilada, criação. A mesma incógnita de sempre e as respostas dúbias. Raposa, búfalo, corvo, borboleta, rato. Astúcia, fé, magia, transmutação, detalhe? Levantou-se decidida, apagou o incenso e arrumou as coisas. Tomou um duche rápido e vestiu-se com as melhores roupas. Preparou um chá só para ter o prazer de abrir o pacote e ler a mensagem espiritual. "It is not about the destination, it's about the journey". Guardou a mensagem no bolso do casaco, despediu-se dos três gatos e chamou o elevador. Tirou, de novo, a mensagem que guardara no bolso. Desdobrou, releu, dobrou em quatro e voltou a guardar. O sol brilhava e a rua estava deserta. Eram 11h da manhã. Sara olhou para a esquerda, olhou para a direita. Avançou com a perna esquerda e, quase no mesmo instante, olhou novamente e susteve a respiração. Viu mas já sem ver, tal foi o impacto da luminosidade. Um apito silvado no ouvido - piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii. Interminável. "It's about the destination". Essa, seria sempre uma incógnita." Há dias em que as palavras escasseiam e a criatividade te vira as costas. Não existe nada mais desesperante para um escritor do que a sensação de não conseguir tirar nada da cartola, e o medo de que essa incapacidade para escrever se torne permanente. Se és dos que não se deixam dominar por este sentimento, podes sentar-te em frente da página em branco e tentar escrever alguma coisa, mas nada parece ser suficientemente bom: escreves umas linhas, apagas, reescreves e voltas a apagar. Não desesperes, não existe escritor ou artista que não passe por bloqueios, só precisas de os aceitar e encontrar a melhor estratégia para lidar com eles. Experimenta as seis dicas que temos para ti. 1. Medita. Não nos cansamos de sublinhar a importância da meditação e da atenção plena no processo criativo. Naqueles dias em que a tua mente parece estar vazia, sem nada de interessante para pôr numa folha, experimenta fazer uma meditação guiada e observa como o pensamento flui, sem que interfiras. A meditação vai ajudar-te não só a relaxar mas a desbloquear a mente. Existem várias aplicações que oferecem meditações guiadas e gratuitas, como a Calm e a Lojong, só precisas de um smartphone e de uns auriculares. 2. Escreve. Parece contraditório, mas o simples facto de começares a escrever vai aumentar o fluxo de ideias criativas. Muitas vezes, o problema está em concretizar o primeiro passo. Senta-te e começa a escrever sem interrupções e sem preocupações gramaticais. Não pares para pensar, deixa-te guiar como se dançasses um tango. Escreve durante dez minutos seguidos sobre os teus pensamentos, o que vês à tua volta ou onde gostarias de estar nesse momento. 3. Faz uma caminhada. Poucas atividades favorecem o pensamento introspetivo como a caminhada. Na verdade, uma caminhada solitária não é mais do que uma forma de meditação. Aproveita para explorares um sítio onde nunca foste e observa com atenção os detalhes, tira partido dos sentidos. Tenta descrever os sons e os cheiros de forma criativa, recorrendo a comparações ou metáforas. Se preferires, levanta-te da cadeira e vai até à janela, talvez só precises de uma lufada de ar fresco. 4. Muda de formato. Costumas escrever no computador? Experimenta papel e caneta. Escreves sempre a azul? Podes tentar escrever a verde. Qual é a sensação de voltar à velhinha máquina de escrever? Se tens essa oportunidade, não a percas. Descreve o som das teclas no papel e a aparência da tinta preta na folha branca, ou mesmo o carisma da fonte tipográfica. 5. Não sejas o teu bullie. Todos os escritores lidam com a crítica e isso inclui a autocritica. Sim, tu és o teu maior carrasco. Tem em mente que não é fácil escrever uma história que virá a público, que um primeiro rascunho nunca é bom e que o sucesso não se constrói de um dia para o outro. Aponta as pequenas vitórias. Se escreves todos os dias, se não desistes, se te manténs fiel aos objetivos que traçaste, orgulha-te disso. Pega num papel e numa caneta e escreve as pequenas e grandes conquistas, isso manter-te-á motivado e menos sujeito a bloqueios. 6. Se não o consegues vencer, aceita. Mas não sem antes fazeres uma birra como quando tinhas quatro anos. Parte um prato, dá dois murros na secretária, chora, pragueja. Quando estiveres mais calmo e com tudo limpo e arrumado, senta-te e começa a escrever. Os bloqueios fazem e farão parte da tua vida de escritor, conter a frustração não te faz bem, por isso tira a rolha da boca. Quando a tempestade passar, voltará a bonança. Conta-nos como lidas com os bloqueios de escritor e se já aplicaste algum dos nossos conselhos. Se quiseres ajudar os teus amigos que também escrevem, partilha este artigo com eles.
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