Tropeçámos numa notícia sobre o vencedor do Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce e não contivemos a curiosidade: procurámos saber mais sobre o António Pedro Martins e sobre a história que venceu o prémio por unanimidade. A resposta ao repto foi humilde e de uma simpatia incomum.
Como nasceu a vontade de participar no concurso? O concurso tem um prémio de valor bastante apelativo, e conheço amigos que já participaram em edições anteriores, sem nunca terem ganho. Mais do que isso, no entanto, é sabermos que a nossa obra está a ser lida e analisada por um júri competente. É um atestado de qualidade que me empurra para novas investidas na literatura. Existia uma ligação prévia com a escrita? A minha relação com a escrita — e com uma leitura mais fluida — começou tarde. Já andava perto dos trinta anos quando realmente consegui mergulhar dentro de uma narrativa. Em pequeno, preferia as brincadeiras ao ar livre, em detrimento do sossego das páginas. E fui-me habituando a estar longe dos livros. Só quando decidi ser professor e fiz uma formação mais teórica (até lá tinha apenas a licenciatura em escultura, curso extremamente prático) é que me dediquei à leitura. Tive a sorte de estar rodeado por quem me sugeriu autores magníficos que me agarraram imediatamente. Aqueles autores que ouvimos os nomes e julgamos serem aborrecidos. Mas não são. Daí à experiência na escrita foi um salto. Fui tentando, aos poucos e quando dei por mim estava a construir histórias. Primeiro como uma brincadeira, agora como desafio. O que sentiu quando soube que era o vencedor? Acima de tudo surpresa. Julgo que uma pessoa concorre a um prémio destes mas depois esquece-se um pouco. A vida continua e não andamos a pensar nos resultados. E como foi uma candidatura sem grandes expectativas — sobretudo pela quantidade de candidaturas que um prémio deste valor deve obter — posso dizer que foi um momento de estupefação. É ótimo. O dinheiro dá sempre jeito, obviamente, mas saber que houve um júri que leu, gostou e decidiu de forma unânime escolher esta história foi uma satisfação enorme. Lembro-me que não articulei frases com grande sentido quando me ligaram a dar o resultado. Julgo ser normal. Este prémio mudou, de alguma forma, as suas perspetivas futuras com relação à escrita? Este prémio — aliás, qualquer prémio que não se limite à sorte — transporta consigo uma bagagem enorme. Em primeiro lugar a confiança no que fazemos, mas logo a seguir a vontade de continuar, de mostrar mais aos outros. Do que fala a história “Leituras e Papas de Aveia” e de onde surgiu a inspiração? Esta é uma história que já andava a balançar na minha mente há alguns anos. Queria uma história com monstrinhos que gostassem de livros. Dar-lhes não só um ar divertido — que é o mais comum — mas também intelectual. No fundo desmistificar os livros e o seu valor. Não são só pessoas intelectuais e certinhas que gostam de ler: qualquer um pode e deve. É divertido para todos. Quando soube que ia ser pai a vontade de escrever uma história concretizou-se. Foi aí que passei para o teclado o que me ia pela cabeça. E a história tem como personagem principal a Olívia — nome da minha filhota — e uma catrefada de monstros simpáticos que vivem no quarto dela para lerem os seus livros. De leitura em leitura passam a umas magníficas papas de aveia que conquistam todos. E este é o início de uma grande amizade e muitas leituras. Que conselhos pode dar aos futuros concorrentes do Prémio de Literatura Infantil Pingo Doce? Acima de tudo escrever. Escrever muito. Sem medo. E concorrer, claro. A prática e a persistência podem parecer um enorme cliché, mas não encontro melhor conselho. Até porque, com este concurso, não são apenas os escritores reconhecidos e já no mundo editorial que conseguem ter o seu livro nas estantes. E com essa parte estou agora ansioso. Também nós ficamos ansiosos por conhecer o livro "Leituras e Papas de Aveia", e desejamos que, para o António Pedro Martins, este seja o primeiro passo de uma carreira repleta de sucessos literários.
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Dezembro 2024
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