Estivemos com o escritor norte-americano Michael Cunningham, autor da obra premiada "as horas".

Sabíamos que Michael Cunnigham era autor residente em Cascais, a convite do programa Residências Internacionais de Escrita da Fundação D. Luís I, mas jamais antecipámos este encontro, marcado na intimista livraria solidária Déjà Lu.

Chegámos sessenta minutos antes da hora definida para o início da masterclasse, a fim de aproveitar a magnífica atmosfera do espaço e fazer as compras que se impunham. Se o sol lá fora convidava a um mergulho e a um passeio na magnífica Baía de Cascais, o apelo da charmosa e bem recheada livraria rivalizou com as tentações exteriores. Como não podia deixar de ser, deitámos a mão à obra premiada de Cunnigham "As Horas", vencedora do prémio Pulitzer em 1999 e adaptada ao cinema, e ao último romance do autor "Um Cisne Selvagem", este por recomendação da afável Francisca Prieto, fundadora do espaço.

Quando ocupámos um dos cerca de quinze lugares vagos, reparámos que um dos relógios presentes na sala marcava o fuso-horário do país de Gabriel García Márquez, sete minutos para as onze. Enquanto no México os residentes se preparavam para almoçar, em Portugal aproximava-se a hora do chá das cinco.
Dispensámos o chá e preparámos um bloco de notas e uma caneta para receber os ensinamentos do escritor nova-iorquino.

 Se em algum momento havíamos pensado que a tarde não podia melhorar, eis que chega Michael Cunnigham acompanhado de Jenny Offill, romancista e autora da obra "Departamento de Especulações". A masterclasse prometia ser inesquecível. E foi.

Jenny Offill

Durante cerca de uma hora, os dois autores, e professores de escrita criativa na Universidade de Yale, transpiraram simpatia e entregaram uma mão cheia de histórias e dicas sobre a construção de narrativas, que arrebataram a atenção da audiência.
Será possível ensinar (ou aprender) a escrever? Ambos concordam que sim, é possível. Mas antes de mais, e como temos salientado no decorrer dos nossos workshops e aulas de escrita criativa, há que ser-se leitor. Este foi o mote para o desenrolar de um novelo de fantásticas considerações e ensinamentos.
E se a expressão "o tempo passa a correr" é, claramente, uma figura de estilo, garantimos que quase o vimos passar a galope.

Michael Cunnigham e Jenny Offill na Déjà Lu

Terminada a masterclasse, foi tempo de, timidamente, pedir o autógrafo da praxe.
Porque não é todos os dias que privamos com dois autores reconhecidos mundialmente.
Saímos com os livros em braços e um profundo sentimento de gratidão por termos sido parte desde momento. Aguardamos com expectativa o novo romance de Michael Cunnigham, que albergará dois meses de inspiração e um final redigido em terras lusas.