Uma boa história infantil depende de vários alicerces que, em conjunto, garantem o sucesso do livro junto dos mais pequenos. Não basta uma boa dose de imaginação, é necessário um trabalho prévio de caracterização de personagens e de estruturação de enredo. Acreditar que a história que escreveu para contar ao seu filho antes de dormir será um sucesso de vendas, poderá resultar numa enorme frustração. Todos os filhos adoram que os pais leiam para eles, mesmo que a ação não os cative especialmente.
Se quer escrever um livro infantil, saiba quais são as quatro coisas que não podem faltar na sua história. 1 - Um tema interessante Já escrevemos, noutros artigos, sobre o facto de estarmos rodeados de histórias e de como é importante observar e questionar o mundo. Quando procuramos um tema para um livro infantil o processo é o mesmo, no entanto devemos focar a nossa atenção nos temas que interessam à faixa etária do nosso leitor-alvo. O leque de opções é variado: do desporto aos animais, da interação escolar aos medos, o importante é adicionar uma quantidade generosa de imaginação. 2 - Um protagonista que crie empatia com o leitor O herói, a personagem central da história, pode ser uma criança, um animal, um extraterrestre, ou qualquer outra que a sua criatividade mandar. Se escolher uma criança, o ideal é que tenha a mesma idade das crianças que definiu como público-alvo. Não dê demasiados detalhes sobre o seu protagonista, isto é, não liste todas as características físicas e psicológicas. Se o herói é teimoso – algo com que muitas crianças se identificarão -, mostre isso ao longo da história. Valerá a pena mencionar, por exemplo, características físicas únicas como uma cabeleira ruiva ou uma cicatriz, mas não mais que isso. Lembre-se de que os livros infantis têm um número de palavras bastante limitado e as crianças têm o superpoder de criar uma imagem do herói, mesmo que lhes dê poucos detalhes. Restrinja o livro a uma personagem principal e a uma ou duas secundárias. Os seus pequenos leitores estão, muitas vezes, a aprender a ler ou a familiarizar-se com os livros, por isso introduzir ações de várias personagens pode tornar a história confusa. 3 - Um problema para resolver Uma boa história constrói-se em torno das tentativas de resolução de um problema do protagonista. Dê um desejo ao seu herói, e um problema que surgirá como oposição à realização desse desejo, mas tenha em conta que uma história em que tudo se resolve na primeira tentativa será uma história demasiado curta. Aposte no número três. Faça com que a solução encontrada para o primeiro obstáculo gere um segundo obstáculo, e a solução encontrada para o segundo obstáculo gere um terceiro. A solução deste último deverá resolver o problema inicial e culminar no desfecho da história. 4 - Um final feliz Um final infeliz num livro infantil não trará nada de construtivo aos seus leitores. Para as crianças, um final feliz é um desfecho satisfatório, aquele em que o herói consegue solucionar o seu problema sozinho. Porquê sozinho? Porque se a sua personagem foi bem construída o leitor vai identificar-se com ela, e se o herói conseguir resolver o problema sem a ajuda dos pais, por exemplo, a história dar-lhe-á o sentimento de independência que muitas crianças almejam. A exceção acontece quando o leitor-alvo pertence a uma faixa etária em que ainda é completamente dependente dos adultos, nesse caso poderá recorrer ao auxílio de um dos pais ou de outra personagem criada para o efeito. Lembre-se ainda de que a história deve ter um propósito, mas não a torne demasiado didática. A leitura deve ser um momento lúdico, não um apêndice do programa escolar. Se este artigo foi útil, partilhe-o com outros escritores. Pode também deixar as suas dúvidas nos comentários.
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Doce procrastinação. Quem nunca adiou uma tarefa para se sentar no sofá a ver um filme, com uma manta no colo e um pacote de pipocas na mão? Não é estranho - nem incomum - que troquemos uma tarefa aborrecida por uma que nos dá prazer, mas parece improvável que um escritor apaixonado troque a escrita pela limpeza da banheira. Na realidade, criar um blogue ou escrever um livro são tarefas frequentemente adiadas por escritores com aptidão e vontade. Porque é que acontece? Estas são as seis razões mais comuns.
1 - Falta de tempo Será mesmo falta de tempo? Para quem adora escrever quaisquer cinco minutos deviam ser bons para rabiscar um texto, no entanto a maioria dos escritores trata a procrastinação por tu: é preciso ir ao supermercado, dobrar a roupa, ou mesmo dormir uma sesta. Para se ser escritor não basta ter vontade, é preciso definir e cumprir uma rotina de escrita. Desvendamos, nos pontos seguintes, porque nunca encontra tempo para escrever. 2 - Insegurança A urgência repentina que sentiu de comprar um pacote de leite não passa de autossabotagem. Talvez nem se importe de beber um copo de sumo natural ao pequeno-almoço, mas no momento em que pensou em sentar-se para escrever, o pacote de leite pareceu-lhe mais valioso que a própria vida. Se procurar no fundo das prateleiras da sua mente não vai encontrar leite, mas encontrará o medo da página em branco, o medo de não ter a técnica necessária para estruturar a história, o medo de sofrer um bloqueio criativo. Temos algo para lhe dizer: até os escritores mais experientes passam horas a olhar para uma folha branca; a técnica estuda-se; os bloqueios enfrentam-se. O seu livro não se vai escrever sozinho. “Os dias começaram a arrastar-se como lesmas, passava-os sentado à mesa, de caneta na mão, a olhar o papel vazio numa paciência imóvel que me doía (…)” António Lobo Antunes, in Visão 3 - Medo do julgamento Acreditar que os outros vão detestar a sua escrita pode ser aterrador, mas não passa de uma crença limitadora. Claro que existirá sempre quem goste e quem não goste do que escreve, assim como existe quem, inacreditavelmente, não goste de chocolate. Querer agradar a todos é utópico. Concentre-se em conquistar alguns leitores fiéis, não em brilhar no firmamento mundial ou em arrebanhar o Nobel da Literatura. Lembre-se do Nobel José Saramago: uns gostam, outros detestam. 4 - Medo da concorrência Não tema os outros escritores, existem leitores para todos. Tema os meios audiovisuais, pois esses são a verdadeira concorrência do livro. Vivemos a era do vício nos estímulos sensoriais, no imediato, nas mensagens mastigadas e prontas a engolir. Se lhe parece impossível que a literatura possa competir com as séries televisivas, as redes sociais e os videojogos, saiba que não é bem assim. Já ouviu falar em Storytelling? A formação sobre a arte de contar histórias é obrigatória para todos os que procuram captar e manter a atenção do leitor. 5 – Não encontrou a sua história Procure-a. Doeu? Olhe à sua volta neste momento: chegue-se à janela, veja a pessoa que está ao seu lado, leia as notícias na internet, entre dentro de si e dos outros. Melhor ainda, não olhe, observe. Questione o mundo, aponte histórias extraordinárias. Existem quatro coisas essenciais para um escritor: ler, escrever, observar e tirar algum tempo para deixar o pensamento divagar. Se decidir procrastinar, deite-se numa cama de rede e deixe que a preguiça jogue a seu favor. 6 - Stress Este é o único motivo que nos obriga a dar o braço a torcer. Se está a passar por uma fase de problemas pessoais graves, de muita pressão ou cansaço, priorize a saúde emocional. Use a escrita como ferramenta terapêutica, se assim o entender, mas não se imponha uma rotina rígida. Escreva poesia, desabafos, um diário. Há momentos em que bastam as imposições da vida e é mesmo preciso parar. Adiar projetos não é desistir deles. Ainda aí está? Feche esta página e comece a escrever. Escritor que se preze vive em busca de ideias para boas histórias. A verdade é que estamos rodeados delas, mas não treinámos a nossa mente para captar os segundos de encantamento que impulsionarão um enredo vencedor: a notícia que acabámos de ler sobre o aquecimento global, o diálogo que ouvimos entre duas senhoras cultas, ou o cão perneta da vizinha do 6º A. Da observação mais simples nascem as melhores histórias, quer apostar? E se o aquecimento global fosse uma forma de repor a ordem natural das coisas? E se uma das senhoras cultas tivesse acabado de matar o marido? E se o cão perneta da sua vizinha fosse a reencarnação do Saci? Talvez estas premissas não sejam para levar a sério, mas um brainstorming absurdo consigo mesmo pode resultar em grandes epifanias. Como em qualquer outro ofício, o segredo reside no treino. Predispor o cérebro para encontrar ideias é um trabalho diário e, arriscamos, divertido. Se depois de ler estes parágrafos teve o seu momento eureka, recomendamos que continue a leitura. Dizemos-lhe quais são os cinco estágios de verificação da história, aqueles que vão validar a qualidade da sua ideia. 1. A sua história deve ser concreta Todas as histórias devem resultar em prazer físico ou mental (não, não é nada disso que está a pensar). Como se sente quando assiste a um espetáculo de fogo-de-artifício? Pisca os olhos de emoção? Assim devem ser as histórias. 2. A sua história deve ser palpável Para além da sensação de tocar no livro ou no leitor de e-books, ofereça ao leitor a impressão clara de que ele poderia vivenciar ou experimentar a sua história. 3. A sua história deve ser mensurável Tudo o que é palpável pode ser medido, ou seja, a sua história deve ter um final e esse final deve ser satisfatório, caso contrário o enredo perderá o interesse. Lembre-se de que final satisfatório não significa final feliz, e de que todas as histórias têm princípio, meio e fim. 4. A sua história deve ser memorável Se teve uma ideia para escrever uma história brilhante, certifique-se de que ela terá hipótese de se perpetuar na memória dos leitores. Há livros que nunca esquecerá, e é isso que quer que o seu livro seja: inesquecível. 5. A sua história deve ser transformadora Para si a para o leitor. Produzir uma história que causa empatia favorece a libertação de endorfinas. Endorfinas fazem as pessoas felizes. Se o leitor se sentir amado - por mais estranho que isso pareça - escreveu uma boa história. O seu enredo não passa nestes cinco requisitos? Melhore-o ou descarte-o. E não se esqueça de que todas as histórias devem ter um propósito, no entanto o nosso conselho é que não se apoie nesta afirmação para veicular lições de moral. O seu leitor não vai gostar disso. Se este artigo lhe foi útil, partilhe-o nas redes sociais. Outros escritores vão agradecer. |
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Fevereiro 2024
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